São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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João Cabral é tema de nova publicação semestral

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem andava lamentando a inexistência de uma boa revista literária no país já tem motivo para comemorar: o Instituto Moreira Salles está lançando os "Cadernos de Literatura Brasileira", refinada publicação semestral dedicada a grandes escritores nacionais.
Cada edição da revista se concentrará exclusivamente num autor. A primeira, que já está nas melhores livrarias (a R$ 15), mergulha na vida e na obra do maior poeta vivo da língua portuguesa, João Cabral de Melo Neto, 76.
Em 135 páginas, a publicação compõe um retrato multifacetado do autor de "Uma Faca Só Lâmina".
Os pontos fortes são uma longa entrevista do escritor, três poemas inéditos que escreveu no início dos anos 40 e um alentado ensaio do crítico literário João Alexandre Barbosa.
Completam a edição belíssimas fotos em preto-e-branco dos motivos mais frequentes na poesia cabralina (Recife, Sevilha, o engenho de açúcar, o rio etc.) e depoimentos de personalidades que conviveram com ele, além de uma minuciosa cronologia e uma bibliografia completa.
Os poemas inéditos foram encontrados pelo diretor editorial dos "Cadernos", Antonio Fernando De Franceschi, com a ajuda da pesquisadora Rosângela Florido Rangel, na Casa de Rui Barbosa, no Rio, entre cartas de Cabral a Vinicius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade.
Dedicados aos dois amigos (dois a Drummond, um a Vinicius), os três poemas são reproduzidos fotograficamente na revista em sua versão manuscrita.
Um deles (sem título) é uma espécie de poema-bilhete a Drummond e foi escrito em folhas de papel timbrado do Departamento Administrativo do Serviço Público da Presidência da República, onde Cabral trabalhava na época (1943).
Embora nunca publicados e até esquecidos pelo autor, os poemas mostram claramente seu talento literário e sua predileção por uma poesia construtiva, substantiva, embora ainda muito influenciada pela dicção drummondiana.
Na entrevista concedida ao editor executivo Rinaldo Gama e acrescida de perguntas enviadas por críticos, Cabral admite abertamente, pela primeira vez, sua adesão ao comunismo de tipo soviético: "Lênin atualizou Marx. Stálin atualizou Lênin. Quando o Muro de Berlim caiu, meu mundo ideológico veio abaixo".
O escritor fala ainda de memória, psicanálise, jornalismo, artes plásticas e, obviamente, poesia. O segundo número da revista, programado para setembro, abordará o ficcionista Raduan Nassar, avaro autor de duas obras-primas: "Lavoura Arcaica" e "Um Copo de Cólera".
Assinaturas e mais informações sobre os "Cadernos de Literatura Brasileira" podem ser obtidas pelo telefone (011) 867-4077.

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