São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Tumores

Juros absurdos, crédito raro, crise bancária são coisas do passado?
Foram 856 pedidos de falência apenas nos primeiros 15 dias do mês, patamar que supera os níveis registrados de janeiro de 1960 a junho de 1995. Ainda que afinal o número de falências decretadas seja de apenas 57, essa cifra é também quase o triplo das falências decretadas em janeiro passado ou em fevereiro de 1995.
O quadro é ainda mais preocupante quando se considera que, segundo levantamento feito desde outubro de 95 pela Associação Comercial de São Paulo, mais da metade das empresas que têm a falência decretada estão há mais de cinco anos em funcionamento. Mais de um terço surgiram antes do Plano Cruzado, em fevereiro de 1986.
É um dado surpreendente, para dizer o menos. Empresas que sobreviveram à sucessão de congelamentos e pacotes do final dos anos 80, à aceleração superinflacionária de 1989 e ao confisco do Plano Collor não estão conseguindo sobreviver ao Plano Real.
Há duas hipóteses para explicar o movimento. É possível que se trate apenas de empresas ineficientes, que sobreviviam à custa do protecionismo e de expedientes de engenharia financeira, mas que foram incapazes de fazer face à competição dos importados, à estabilidade de preços ou às inovações tecnológicas que se intensificaram nos últimos anos. Ou seja, estaria em curso apenas um saneamento da estrutura econômica, com eliminação dos que são incapazes de se ajustar. A economia estaria extirpando o tumor da ineficiência e, apesar do sofrimento no curto prazo, no longo prazo viria o crescimento com modernização e mais produtividade.
A outra hipótese é menos positiva: a crise de crédito e os níveis de inadimplência seriam ainda significativos. O próprio controle sobre o crédito e as altas taxas de juros continuariam a fazer vítimas inocentes, dificultando o saneamento do sistema bancário e favorecendo apenas as empresas, especialmente as de maior porte, com acesso a fontes de crédito externas, mais baratas.
Em vez de eliminação da ineficiência, estaria ainda em curso uma fragilização do sistema empresarial.
Nesse cenário mais pessimista estaríamos diante de um tumor maligno, de difícil reversão, fatal para a saúde da economia brasileira.

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