São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Educação

Em uma indignada e paradoxalmente hilariante coluna publicada nesta semana, o articulista Marcelo Coelho alerta para o terrível problema da educação no Brasil. Não falava, como já se tornou praxe, da imensa massa de miseráveis que nem mesmo tem acesso à escola, mas sim de jovens bem-nutridos cursando o segundo grau.
Eram incapazes de responder a perguntas absolutamente simples de uma gincana televisiva. Como observou Coelho, não é tão grave o fato de não saberem que Copenhague é a capital da Dinamarca ou que a Bolívia e o Paraguai não têm saída para nenhum oceano. O analfabetismo geográfico ou mesmo histórico já é um fenômeno universal (pesquisa indica que 1/3 dos jovens ingleses não sabem quem foi Winston Churchill).
Eram igualmente incapazes, porém, de responder corretamente a questões acerca de elementos de seu próprio universo cotidiano (desenhos animados) ou, mais grave, a perguntas que não exigiam nenhum conhecimento específico que não as mais básicas regras da linguagem (pergunta: o que é que a lavadeira faz com a roupa que é o que o torcedor faz quando vai ao estádio? resposta: lava a roupa, quando, é óbvio, que a resposta deveria ser "torce").
A elite brasileira, entretanto, sempre procurou educar bem seus filhos e, por isso, nos supercolégios a situação não é, supõe-se e espera-se, tão calamitosa. Ainda assim, as provas dos melhores vestibulares de São Paulo deste ano dão bem a medida do desamparo a que chegou a educação.
A física, ciência na qual novas e importantes descobertas ocorrem com alguma frequência, torna-se no vestibular uma enxurrada de trabalhosos exercícios que se enquadram dentro de uma concepção antiga da física, que nada têm a ver com o que se faz hoje na área e que nada acrescentarão à formação do aluno. É como se esses exercícios fossem um fim em si mesmo. Críticas análogas poderiam ser formuladas acerca do que se exige em todas as demais disciplinas.
Hoje, já não é a escola que determina o que considera melhor ensinar, mas é o currículo do exame vestibular que pauta as escolas.
Antes que as melhores escolas do país se acomodem e continuem ensinando sem se questionar coisas ultrapassadas e que nada ou pouco acrescentam à formação do aluno, é o caso de parar para perguntar o que se deseja de uma escola, cuja função, afinal, é formar os jovens e não inundá-los com uma batelada de fórmulas que não formam e serão rapidamente esquecidas.

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