São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996 |
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Dias de reflexão
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA Dois eventos marcam nestes dias a vida de nosso povo: as intensas chuvas, enchentes, desabamentos e o Carnaval.Não tenho lembrança recente de temporal tão forte como o que desabou sobre o Rio de Janeiro e outras cidades na última semana. Muitos mortos. Desaparecidos. Famílias enlutadas. Pessoas que perderam os seus bens. Mais uma vez é a ocasião para o devotamento e a solidariedade fraterna, a fim de amenizar o sofrimento de tantos lares. No meio de tantos padecimentos, cabe também perceber que há omissões de que somos responsáveis. Alguns desabamentos são devidos à precariedade da construção em terrenos inadequados nas encostas dos morros. Faltam serviços básicos de escoamento das águas. Precisamos que a competência profissional e os recursos públicos sejam aplicados em benefício das urgentes medidas sociais, para evitar ou pelo menos reduzir essas calamidades. Neste ano, a Campanha da Fraternidade nos alerta sobre a maior responsabilidade política e o exercício consciente da cidadania. Uma das consequências há de ser o programa de moradia popular, especialmente em nossas grandes cidades. Por outro lado, aí está o Carnaval que nos faz refletir. As prefeituras, mesmo de pequenas cidades, não hesitam em despender somas grandes em ornamentação e aparelhagem de som e convite a conjuntos musicais. Além dos gastos econômicos excessivos, temos de avaliar o desgaste ético, muito maior. Reconheço aspectos, alguns positivos, de alegria para o povo. Escolas de samba, canções e músicas rivalizando em criatividade, carros alegóricos, danças, espetáculo de cores, ritmos e euforia popular. Essa manifestação surpreendente de vitalidade do povo, fusão de várias raças, mostra a característica festiva da alma brasileira, que sabe, mesmo em meio ao desemprego e à miséria, encontrar expressões coletivas de arte e alegria. No entanto, não podemos deixar de perceber que, infelizmente, o Carnaval vem se deteriorando cada vez mais; consumo descontrolado de bebidas, desmandos morais, clubes que se tornaram ambientes de devassidão, aumento de assassinatos, crimes e desastres nas ruas e cidades. Onde encontrar a medida certa para que haja distração, arte e alegria benéfica, sem cair nos excessos e abusos que ofendem a Deus e frustram nosso povo? Nesta mesma semana em que tantos prejudicam a si mesmos e suas famílias, cresce também, aos poucos, o número dos que aproveitam a oportunidade para se dedicar, em grupos, à oração e revisão da própria vida à luz da palavra de Deus. Eis aí um apelo para todos nós. O sofrimento das vítimas da calamidade e o vazio interior do Carnaval que se degenera abrem espaços de reflexão sobre a beleza do dom da vida que de Deus recebemos. Quem sabe nestes dias vamos encontrar a alegria da solidariedade e perceber melhor os valores que dignificam a existência? D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna. Texto Anterior: A tragédia e o sonho Próximo Texto: FAMA; PARAÍSO; REJEIÇÃO; INTROMISSÃO Índice |
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