São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 1996
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País atrai menos do que Uruguai e deixa de ganhar R$ 1,8 bi por ano

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil vem deixando de ganhar pelo menos US$ 1,8 bilhão por ano por não desenvolver uma política agressiva de atração de turistas estrangeiros.
A avaliação, de especialistas em turismo ouvidos pela Folha, é baseada na estimativa da Abav (Associação Brasileira de Agentes de Viagem), segundo a qual o país deveria estar atraindo, no mínimo, 4 milhões de turistas por ano, o dobro de dez anos atrás.
Mas segundo a Embratur, apenas 1,8 milhão de turistas visitaram o país em 1994, gerando uma receita de US$ 1,5 bilhão.
Esses dólares adicionais que o Brasil poderia estar faturando, caso soubesse tirar partido do seu potencial turístico, correspondem a quase dois terços dos investimentos diretos (abertura ou ampliação de fábricas) estrangeiros no país em 95 (US$ 2,97 bilhões, segundo o Banco Central).
Recebe-se aqui menos gente do que na Argentina (3,9 milhões) e no Uruguai (2,2 milhões). Além do capital que deixa de entrar, perde-se também uma frente para abertura de novos postos de trabalho -no momento em que milhões de brasileiros defrontam-se com a crise do desemprego.
Para se ter uma idéia de quanto a indústria do turismo é importante globalmente, basta dizer que ela contribuiu para a geração de 212 milhões de empregos diretos e indiretos no mundo em 1995. O dado é do WTTC, o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, órgão da indústria mundial de turismo, baseado em Bruxelas (Bélgica).
Isso representa 10,7% da força mundial de trabalho ou um em cada nove trabalhadores, segundo o WTTC. No Brasil, o setor emprega 1 em cada 11 trabalhadores.
Imagem ruim
Os especialistas apontam três causas principais pelo fiasco do turismo receptivo no país: a imagem negativa no exterior (violência urbana, assaltos, desmatamento), a falta de investimentos em promoção e na infra-estrutura turística e o alto custo das viagens, devido à distância dos principais mercados emissores, agravado atualmente pela sobrevalorização do real frente ao dólar.
Leonel Rossi Junior, presidente da Abav-SP, diz que o governo, há muito tempo, não leva a sério o turismo receptivo.
"Os nossos governos não têm olhado o turismo como um grande negócio, deixando de lado uma indústria que é prioritária para a criação de empregos em todo o mundo".
Ele cita o exemplo da Jamaica, uma pequena ilha do Caribe, do tamanho do município de Guarujá, para justificar sua crítica à falta de investimentos da Embratur na promoção do Brasil como produto turístico.
O governo jamaicano, diz, gasta US$ 30 milhões por ano, principalmente na mídia da Europa e dos EUA, para promover o turismo no país.
O resultado, afirma, é a atração de 2,5 milhões de visitantes por ano, uma marca que o Brasil jamais alcançou.
Promoção
Tasso Gadzanis, presidente da FIT (Fundação da Indústria de Turismo), diz que o turismo no Brasil está "jogado às traças".
Citando um estudo do WTTC, ele diz que o investimento em promoção no exterior deveria ser igual a 2% da receita bruta proporcionada pelos turistas estrangeiros no país: o Brasil deveria estar alocando US$ 30 milhões, o mesmo que a Jamaica, para promover o país no mercado externo.
A França, líder mundial na atração de turistas estrangeiros (65 milhões por ano) gasta US$ 128 milhões em promoção no exterior.
Jean Philippe Perol, diretor no Brasil da Maison De La France, agência de promoção francesa, diz que o turismo é a principal atividade econômica em várias regiões de seu país.
"O turismo é responsável hoje por 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos, gera 30 mil novos empregos por ano e um faturamento de US$ 130 bilhões, dos quais 20% do turismo receptivo", afirma Perol.
Tasso Gadzanis bate na tecla da geração de empregos para pedir mais investimentos da Embratur e da iniciativa privada.
Ele destaca o esforço turístico dos Estados do Nordeste, através do governo da Bahia e da Comissão de Turismo Integrado do Nordeste.
Como resultado, Fortaleza, Macéio e Natal estão agora no mapa turístico mundial e Recife começa a competir com o Rio como porta de entrada do turista estrangeiro no país.
Para Gadzanis, um exemplo da importância do turismo para o desenvolvimento regional e geração de empregos é o Hotel Transamérica, do Banco Real, na ilha de Comandatuba, que pertence ao município da Barra do Una, na Bahia.
O projeto, afirma, criou 600 empregos diretos em um município de 6.000 habitantes, e pelo menos outros tantos empregos indiretos.
O grupo Odebrecht também tem planos de investimentos hoteleiros na Bahia.
O megaprojeto do parque turístico Porto Sauípe, no norte do Estado, está avaliado em US$ 1 bilhão.
Na primeira fase do projeto, o grupo vai gastar US$ 350 milhões até 1998.
Janick Daudet, gerente no Brasil do grupo francês Club Med, destaca igualmente a capacidade de geração de empregos pela indústria de turismo.
Em cada uma das suas "villages" no país, Itaparica, na Bahia, e Rio das Pedras, no Rio de Janeiro, o Club Med gera 800 empregos diretos e 250 indiretos.
Consciente da explosão do turismo no Nordeste, o Club Med planeja abrir seu terceiro empreendimento no Brasil. Será perto de Recife, representando um investimento de US$ 50 milhões.
Animação
Aristides de La Plata Cury, diretor executivo do São Paulo Convention & Visitors Bureau, concorda com a avaliação consensual de especialistas, mas exime a Embratur da culpa exclusiva pelo problema.
"A Embratur talvez seja a menos culpada, pois toda a sociedade, governos estaduais e municipais e a iniciativa privada ainda não pensou nas vantagens do turismo receptivo".

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