São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 1996
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FHC pretende virar um tocador de obras

Em ano eleitoral, Nordeste vai ganhar atenção especial

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso vai mudar o enfoque do marketing do seu governo. Em 96, a prioridade não será apenas a imagem de guardião do real e da estabilização da economia.
Uma programação de viagens, a partir de março, para inaugurar uma série de obras pretende transformar FHC em um presidente "tocador de obras".
A virada coincide com o ano em que se realizarão as eleições municipais (outubro) e a sua reeleição estará em discussão no Congresso.
A primeira turnê do presidente começa em março com a abertura de açudes em Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte.
O ministro do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Amazônia Legal, Gustavo Krause, vai levar o presidente para inaugurar os açudes de Serrinha (PE) e Fogareiro (CE). Na mesma viagem será lançado o Plano Diretor de Recursos Hídricos no Rio Grande do Norte.
Krause foi um dos principais articuladores da nova imagem presidencial para 96. "Com todo o miserê, tenho uma obra por mês para o presidente inaugurar", disse.
"Mesmo com poucos recursos, é possível fazer um planejamento para usá-los de forma mais harmoniosa", afirmou Krause, referindo-se aos 19 açudes, com o custo total de R$ 57 milhões, que serão concluídos ao longo do ano.
Os ministros José Serra (Planejamento), Sérgio Motta (Comunicações), Paulo Renato Souza (Educação) e Odacir Klein (Transportes) vão integrar a comitiva de FHC nas inaugurações.
Todas as obras que tiverem sido objeto de investimentos federais serão solenemente "inauguradas" com a presença do presidente.
No próximo dia 23, por exemplo, ele vai ao Sul visitar o pólo petroquímico, em Triunfo (RS). A expansão do pólo contou com ajuda de recursos da União.
Além das inaugurações, o Palácio do Planalto preparou o lançamento de programas especiais de desenvolvimento, com atenção prioritária para o Nordeste.
O pacote para a região inclui a promessa de lançamento de uma linha especial do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do BNB (Banco do Nordeste do Brasil S/A) no valor de R$ 1 bilhão.
A verba é para investir em projetos industriais na região. Segundo o ministro Cícero Lucena (Políticas Regionais), essa linha de financiamento é uma ampliação do programa Nordeste Competitivo.
O ministro disse à Folha que os recursos do BNDES vão complementar os projetos financiados pelo Finor (Fundo de Investimento do Nordeste), com orçamento de R$ 600 milhões para 96.
"Os projetos industriais que levariam de seis a sete anos para serem concluídos, contando apenas com as linhas de crédito do Finor, serão instalados dentro de dois anos", comemora Cícero.
O governo também está prometendo fechar um acordo de financiamento com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para destinar mais R$ 1 bilhão para irrigação no Nordeste.
Lucena diz que, nos próximos quatro anos, o objetivo do governo é promover a irrigação de 643 mil hectares, contando com a complementação de investimentos do setor privado.
As promessas de investimentos no Nordeste também estão sendo embaladas no discurso da política de geração de empregos que FHC anunciou como prioritária em 96.
Segundo o ministro de Políticas Regionais, que pode deixar o cargo para concorrer à Prefeitura de João Pessoa (PB), o programa de irrigação pode gerar o equivalente a 1,4 milhão de empregos.
O governo tem três projetos de reforma constitucional em tramitação no Congresso -previdenciária, administrativa e tributária- e precisa atender às reivindicações da bancada nordestina, se quiser contar com seus votos.
O senador Ronaldo Cunha Lima (PMDB-PB) afirmou que os parlamentares nordestinos, "independente do partido", reclamam a "definição de um planejamento governamental para a região".
"É evidente que um representante do Nordeste no Congresso, sentindo que a região está satisfeita com o governo, também fica mais satisfeito em votar com o governo", disse Cunha Lima.
O senador Epitácio Cafeteira (PPB-MA) considera que FHC "ganharia apoio para a emenda de reeleição presidencial no Senado se adotasse posições favoráveis ao Nordeste".

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