São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 1996 |
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Maracatus de Olinda levam 100 mil às ruas
FÁBIO GUIBU
Eles integram os maracatus rurais, dança criada no século passado nas senzalas dos engenhos sob influência de rituais indígenas e de negros africanos. Esses grupos, com 80 a 300 integrantes cada, arrastam cerca de 100 mil pessoas durante o Carnaval de Olinda, em performances que duram até oito horas. O encontro deste ano acontece amanhã, a partir das 9h. Cerca de 80 maracatus vão se concentrar no Espaço Lumiara Zumbi e de lá se espalharão por Olinda, reunindo-se novamente, horas depois, em frente à prefeitura. O espetáculo é colorido e barulhento. Os personagens usam fantasias brilhantes e dançam embalados ao som de chocalhos, instrumentos de percussão e de sopro. "Eu fico emocionado ao ver como pessoas pobres fazem tantas coisas bonitas, tantos enfeites maravilhosos que poderiam ter saído da mão de um estilista", diz o cantor Alceu Valença. "Participar do encontro é o esporte dessa gente, é a diversão de quem tem de esquecer os aperreios da vida", acrescenta Manoel Salustiano Soares, 50, o mestre Salu, principal nome do maracatu. Para montar um bom maracatu rural -ou de baque solto, como também é chamado-, os integrantes precisam investir no mínimo R$ 20 mil, segundo Salu. Ele estima que só para confeccionar as fantasias, grupos com 150 pessoas utilizam 300 metros de tecidos variados, principalmente cetim, veludo e estampados. O resultado é que, além de vistosas, roupas como as dos caboclos-de-lança (guerreiros) chegam a pesar 45 quilos. A principal dificuldade dos integrantes dos maracatus, porém, não é carregar as fantasias pelas ladeiras de Olinda, mas pagar por elas. O mestre-de-obras José Vicente Ferreira, 62, caboclo-de-lança há 26 anos, pagou R$ 600 pela roupa que vai usar este ano, três vezes o valor de seu salário mensal. Texto Anterior: Rio faz hoje seu desfile 'pós-diluviano' Próximo Texto: Baby do Brasil prepara roteiro místico no Rio; Socialite paulista sai de Mãe África na Beija-Flor; Índice |
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