São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 1996
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Taxa de administração dos fundos achata rendimento

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A redução das taxas de juros está provocando nos Fundos de Investimento Financeiro, os FIFs, efeito semelhante ao registrado na caderneta de poupança: queda ainda maior da rentabilidade obtida pelos investidores.
Os motivos são diferentes. Na poupança, a causa está no redutor fixo de 1,3% aplicado à média dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) para se obter a TR.
Com média de CDBs a 3%, a TR é de 1,68%. Esta taxa equivale a 56% da outra. Se o CDB cai para 2%, a TR é de 0,69%, ou seja, apenas 34,50%.
Quanto menor o tamanho dos juros, mais acanhada fica a TR e, consequentemente, a remuneração da poupança, mesmo com o 0,5%, distorção já reconhecida pelo Banco Central.
Como é nos FIFs
Nos fundos de investimento, o problema está nas taxas de administração cobradas pelos bancos. Os FIFs funcionam como um condomínio. Os bancos só administram e cobram uma remuneração pelo serviço.
A taxa de administração, embora anual, é provisionada por dias úteis e descontada assim da valorização das cotas dos FIFs.
Mas, para entender a distorção, imagine que o juro do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), parâmetro maior do que é pago aos investidores em renda fixa, esteja em 40% ao ano e um determinado fundo pague, por hipótese, 100% do CDI a seus cotistas.
Com uma taxa de administração de 5%, o juro do investidor seria de 35%, ou seja, 87,50% do CDI -sem contar, obviamente, o desconto do Imposto de Renda no resgate de cotas.
Se o CDI fica em 30% anuais -quase o nível atual-, com o desconto de 5% o investidor ficaria com 25%, ou seja, 83,33%.
Na hipótese (ainda remota) de o CDI baixar para 20% ao ano, a rentabilidade bruta do investidor cairia para 15%, ou apenas 75% do CDI. No limite, o juro some.
Nos EUA, onde juros de aplicação chegam a 6% ao ano, no máximo, e ainda assim em título público de 30 anos, seria impraticável uma taxa de administração de 5%, muito comum no Brasil.
Taxas variam
Nos fundos de curto prazo, que têm maior custo operacional e são atrelados às contas correntes dos clientes, pois há sempre resgate automático, as taxas de administração vão de 6% a 18% ao ano.
Nos demais FIFs de renda fixa, de 30 ou 60 dias, as taxas variam de 0,5% a 6% ou 7%. As mais baixas são cobradas nos chamados bancos de atacado, com clientela exigente e maior cacife financeiro. As mais altas, nos bancos de varejo, com ampla rede de agências e milhões de clientes que nem sequer sabem o que é CDI.
Como a tendência é de queda gradual das taxas de juros (ver gráfico ao lado), já há bancos, principalmente os maiores, pensando em reduzir as taxas de administração.
Antonio Pavão, diretor de mercado aberto do Bradesco, admite essa possibilidade e acha que uma revisão de taxas poderá acontecer ainda neste semestre.
Outros bancos também consideram a redução inevitável devido à concorrência, que tende a se acirrar em todo o sistema bancário.

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