São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Clandestinos' assustam assistentes sociais

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O "exercício" da profissão por leigos é um dos principais problemas enfrentados pelos assistentes sociais profissionais.
Qualquer exercício de caridade é encarado como assistência social, reclamam os profissionais da área. Daí derivam outros problemas enfrentados pelos graduados em serviço social.
"O maior problema é a questão da falta de opções no mercado e da inexistência de um piso salarial para a categoria", afirma Elisa Aparecida Gonçalves, 33, presidente do Cress (Conselho Regional de Serviço Social).
Segundo ela, cada instituição paga o que quer. Alguns profissionais chegam a receber um salário inferior a R$ 300 por mês.
Mas o incremento dos setores de RH (recursos humanos), que têm aperfeiçoado a concessão de benefícios como parte integrante dos salários, abriu novas oportunidades em empresas.
"Nesse caso, o salário é bem razoável", opina Elisa, para quem também há oportunidades no setor público com remuneração média de R$ 1.000 por mês.
A função do assistente social é hoje integrada às de outros profissionais -psicólogos, sociólogos, médicos, entre outros.
O objetivo é encontrar formas de elaborar planos de ação referentes a diversos campos, como orientação e reabilitação profissional, desemprego e amparo a inválidos e acidentados, por exemplo.
A miséria cada vez mais evidente, sobretudo nas grandes cidades, faz do assistente social um profissional bem requisitado. Boa parte das opções, porém, está migrando para fora das capitais.
"Tivemos recentemente promulgada a Lei Orgânica da Assistência Social, que estabeleceu um novo patamar para o profissional", explica a presidente.
"O resultado foi a contratação de vários assistentes sociais por parte de prefeituras." No Estado de São Paulo, há atualmente 26 mil assistentes sociais -dos quais 8.000 estão inativos.
Há quem enxergue na carreira um certo desprestígio por lidar com a questão da miséria.
"A profissão de médico, por exemplo, é diferente, pois doenças independem da classe social", avalia Regina Gifoni Marsiglia, 51, coordenadora do curso de serviço social da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), que está completando 60 anos.
Mais do que fazer caridade, a profissão de assistente social demanda habilidades mais sofisticadas -conhecimento de idiomas, informática e uma formação genérica.
Prova disso é que, no curso, disciplinas como economia, direito, política e legislação são básicas.
"Hoje as empresas empregam assistentes para trabalhar com a motivação de funcionários", afirma Regina.
Ela diz acreditar que a área pública também ganha adeptos pela "concepção política" da função de assistente. Mesmo assim, há uma evasão alta entre os estudantes.
Entre o primeiro e o segundo ano da PUC-SP, por exemplo, cerca de 30% dos universitários desistem de seguir a profissão de assistente social.

Texto Anterior: CARTAS
Próximo Texto: Conselho dá orientação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.