São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 1996
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Ieltsin é alvo de piadas em sua cidade natal

The Independent
De Londres

PHIL REEVES
EM IEKATERINBURGO

Houve uma época em que ninguém em Iekaterinburgo teria criticado o superelegante arranha-céu de concreto e vidro no centro da cidade, o edifício mais alto dos Urais. Hoje, porém, as pessoas brincam, dizendo que é a versão russa da torre de Pisa. Não que o edifício esteja caindo.
O alvo das piadas é o homem que o fez -Boris Ieltsin, o antigo herói local que, na condição de chefe comunista da cidade, administrou-a por quase uma década.
Ma quinta-feira, ele anunciou sua candidatura a um segundo mandato no Kremlin. Mas já não pode contar com a cidade onde cresceu e estudou para lhe dar os 90% de votos que ajudaram a levá-lo à suíte presidencial.
Como o resto da Rússia, excetuando Moscou, Iekaterinburgo está amargurada com as promessas rompidas e o declínio econômico.
Iekaterinburgo, que na época de Ieltsin era a 10ª maior cidade da URSS, com um parque industrial que produzia máquinas pesadas, tanques, foguetes e equipamentos de transporte, não se tornou território inimigo do presidente, mas está desorientada com a perda do status de seu filho predileto.
Prova disso é a cena registrada ontem. Duas mulheres discutiam com um jovem que apoiava Ieltsin. "O que Ieltsin já fez de bom?", perguntou uma delas.
"Se não fosse por ele não haveria jornalistas estrangeiros", respondeu o homem (Iekaterinburgo, na época chamada Sverdlovsk, passou anos fechada a turistas). "Isso aconteceu sob Gorbatchov", disse uma das mulheres.
"Agora temos comida nas lojas", afirmou o rapaz. "Sim, mas não temos dinheiro para comprá-las. Se nos dessem salários e pensões normais, as prateleiras seriam esvaziadas em um dia", responderam as mulheres. Elas afirmam que Ieltsin mudou completamente: "Os homens são como amantes. Vão mudando".
Nas eleições parlamentares de dezembro, o grupo Nosso Lar É a Rússia, com o apoio de Ieltsin, foi o terceiro mais votado na cidade, atrás do partido regional e do Partido Liberal Democrata, do neofascista Vladimir Jirinovski.
Embora os comunistas, vencedores nacionais, tenham chegado em quarto lugar em Iekaterinburgo, eles assumiriam a dianteira se fossem incluídos os 4,8% dos votos dados a um partido menor, de tendência stalinista.
O ex-empresário Guennadi, hoje motorista de táxi, não é mais comunista. Faz parte da crescente massa dos intranquilos. "Este país é como um navio em alto-mar durante uma tempestade -e o capitão está bêbado", diz ele.

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