São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 1996 |
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Tábula rasa No século 17, o filósofo inglês John Locke definiu a mente de um bebê como uma "tábula rasa", como uma folha de papel em branco, que seria marcada por impressões obtidas por meio das experiências e, a partir daí, surgiria o entendimento, a inteligência. Neste século, com o avanço das ciências, notadamente a genética, surgiu uma tendência mais fatalista que afirmava que todas as características de um indivíduo já estão predeterminadas segundo a disposição de seus cromossomos. Como mostra reportagem da revista norte-americana "Newsweek" datada de 19/2, as mais recentes pesquisas em neurobiologia sugerem que a mente humana se desenvolve num modelo que mistura as duas concepções. Parece claro que é a genética que determina as potencialidades de uma pessoa. Se ela nasce com um retardo mental congênito, não há experiência possível que a transformará num Einstein. De outro lado, porém, existe um mecanismo pelo qual as experiências acionam os neurônios e desenvolvem as áreas especializadas do cérebro. Sem a experiência e a estimulação dos neurônios, o potencial genético se anula. Um exemplo experimental: tapa-se um dos olhos de um gato recém-nascido de modo que os neurônios que ligam seu olho ao córtex cerebral não recebam estímulos; mesmo depois de retirada a tampa, o gato jamais enxergará, pois os nervos necessários para o processo não foram acionados até seu tempo de maturação, também chamado de janela. Cada habilidade específica tem uma janela diferente. As áreas do córtex ligadas à matemática e à lógica só podem ser acionadas entre o nascimento e os quatro anos. A linguagem, do nascimento aos dez. A habilidade musical vai dos três aos dez anos. Como as habilidades específicas interagem com outras áreas de conhecimento, essas descobertas têm importante impacto sobre a educação. A música, por exemplo, estimula, além da área musical do cérebro, a capacidade de percepção visual, o que a torna menos "inútil" do que querem alguns. Também no caso das línguas estrangeiras, a melhor idade para começar a aprendê-las é por volta dos 10 anos, e não apenas no segundo grau, como se costuma fazer. Prestar atenção nessas pesquisas pioneiras na hora de pensar o ensino pode ser extremamente útil para que os alunos não deixem a escola como "tabulae rasae". Próximo Texto: Infame Índice |
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