São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 1996
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Os ventos nos empurram para Atlanta

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Não se pode dizer que o Brasil jogava, literalmente, contra o vento, ontem, em Tandil, na Argentina. Pelo menos, no primeiro tempo, quando os ventos estavam a nosso favor.
Mas, talvez, a metáfora se ajustasse ao seu adversário, um Peru temeroso que chegou ao primeiro gol numa das previsíveis falhas da nossa zaga. Mas, que só levou o empate por conta do talento de Juninho, até então ausente do jogo. E, do vento, digamos, nesse gol pré-olímpico.
Cara ao vento -triste imagem-, no segundo tempo, tivemos um arrepio com a escapada de Ramirez, o córner e a bola no travessão; um sopro de esperança com Caio e Sávio no repique, e o suspiro de alívio com o pênalti fantasma em Sávio por ele mesmo convertido.
Por fim, a primeira combinação perfeita entre Jamelli -que entrara no lugar de Juninho-, Caio e Sávio, o terceiro gol, a porta aberta para a goleada, que se definiria com o quarto, numa pequena obra-prima de Jamelli, depois de justa troca de passes entre Sávio e Beto, que substituíra Souza. Pelo visto, os ventos nos empurram em direção a Atlanta.
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Era só isso que o Santos precisava: uma vitória acima de qualquer suspeita, de preferência com uma exibição de Giovanni, que nos remetesse à temporada passada, quando ele chegou a ser considerado o melhor jogador do Brasil. Pois foi o que aconteceu neste sábado de Carnaval em Araraquara, quando o Santos meteu 3 a 0 na Ferroviária.
O jogo teve um certo equilíbrio até o primeiro gol, contra. Depois, sobretudo no segundo tempo, o Santos reincorporou aquele espírito do Brasileirão.
Espírito, no sentido de leve, fluente, na passagem da bola da defesa ao ataque, sob o comando de Vágner e as bênçãos de São Giovanni, como diz o Matinas, que marcou dois golaços -o primeiro, pela precisão do disparo de fora da área, no ângulo; o segundo, pela harmonia de movimentos em alta velocidade de Robert e Giovanni. Logo após, o quarto gol, um chute de fora da área de Giovanni chocou-se com o travessão.
Mas o quinto gol é que teria banhado de ouro a preciosa performance de Giovanni: bola cruzada na meia-lua, amortecida no peito, um toque de pé esquerdo, formando um lençol sobre o primeiro zagueiro, que repousa de volta no peito de Giovanni; novo toque de pé, o segundo zagueiro é encoberto, e só o terceiro conseguiu evitar o tiro fatal que, por certo, daria de 2 a 1 na obra-prima de Marcelinho e justificaria uma placa na Vila, em homenagem a um camisa dez santista que nunca foi Pelé. Quase.
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Pela segunda vez neste campeonato, o Santos teve de vestir um uniforme que o afasta da alva tradição e o aproxima do Corinthians: camisas brancas e calções negros.
Como a decisão da federação de evitar confusões em campo é altamente louvável, uma sugestão aos peixeiros: das duas uma: ou jogar com sua camisa listrada reserva, num caso destes, ou inovar na linha da tradição -por que não a contrafação do branco total com um negro total, camisas, calções e meias negras?

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