São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 1996
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Pacote traz raridades do jazz moderno

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dixieland, swing, bebop, cool, hard bop, free. Um pacote de 13 CDs do selo britânico Charly -distribuído no Brasil pela Paradoxx- oferece aos fãs do jazz uma síntese dos estilos que dominaram esse gênero entre os anos 30 e 60, antes que as fusões com o rock entrassem em cena.
As gravações mais antigas do pacote (veja lista de títulos ao lado) estão nos CDs "Blues in Thirds", do saxofonista Sidney Bechet, e "Swingin' in Paris", com o trombonista Dicky Wells e o trompetista Bill Coleman.
Gravados no final dos anos 30, ambos trazem em seus repertórios alguns clássicos do jazz tradicional de Nova Orleans, mais tarde batizado de dixieland. Em faixas como "Summertime" e "The Mooche", Bechet mostra porque é considerado pai do sax soprano.
O swing dos anos 30 e 40 também está representado. À frente de sua imbatível orquestra, em registros de 1956, Duke Ellington exibe 15 pérolas de seu "songbook". Uma delas, "In a Mellow Tone", reaparece no álbum que o saxofonista Ben Webster -ellingtoniano de carteirinha- gravou 16 anos mais tarde, em Paris.
Também gravado na capital francesa, em 1969, o CD do saxofonista Archie Shepp é a maior surpresa do pacote. "Blasé" marca a afirmação do free -estilo iconoclasta que dinamitou as estruturas do jazz, nos anos 60.
Além da sonoridade agressiva de Shepp, a grande atração é a voz emocionante de Jeanne Lee, cantora que permanecia inédita até hoje em edições nacionais.
No entanto, é para os fãs do jazz moderno que esse suplemento Charly reserva mais raridades. A começar do CD "Bird Meets Diz", dedicado aos encontros dos dois grandes mestres do bebop: o saxofonista Charlie "Bird" Parker e o trompetista Dizzy Gillespie.
Trata-se de uma compilação de apresentações em rádio e TV, registradas entre 1943 e 1952. Quem não se importar com a qualidade sonora, um tanto precária, poderá sentir a atmosfera das frenéticas "jam sessions" dos "beboppers".
Dessa mesma época é "Professor Bop", CD que destaca Gillespie à frente de várias formações. Nada se compara ao impacto sonoro de "Things to Come", composição própria gravada por ele em 1946, com uma orquestra recheada de feras, como Kenny Dorham (trompete), Sonny Stitt (sax alto) e Ray Brown (baixo).
Mais raridades do bebop podem seu encontradas no CD do trompetista Miles Davis. Essa coleção de transmissões ao vivo do Birdland (um dos melhores clubes de jazz nova-iorquinos, no início dos anos 50) inclui faixas como "Ray's Idea" e "Woody'n You", exemplos do cool jazz, estilo que "esfriou" o vigor do bebop.
Três músicos que ficaram conhecidos como parceiros de Miles -o pianista Wynton Kelly, o contrabaixista Paul Chambers e o saxofonista Cannonball Adderley- também comandam dois álbuns do pacote. Registrados na virada para os anos 60, ambos trazem as marcas do primeiro "revival" do bebop, rotulado de hard bop.
Também "bebopper" da primeira geração, como outros jazzistas o saxofonista Dexter Gordon emigrou para a Europa, nos anos 60. Gravado na Holanda, em 69, o CD "Live at the Amsterdam Paradiso" prova que a arte de Dex continuou intacta no auto-exílio, até que o mercado dos EUA o redescobrisse, no final dos anos 70.

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