São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 1996
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Zanotti interpreta antologia napolitana

WILLIAM LI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Acaba de ser lançado pela Globo Records France o segundo volume do CD intitulado "Concertino Napoletano", antologia de músicas napolitanas, interpretadas por Romano Zanotti.
Quem imaginar que se trata de música de cantinas italianas estará completamente enganado.
A maioria das músicas deste disco data do século 18 e constitui a herança de uma rica tradição musical, que remonta à Grécia clássica.
Com efeito, Nápoles foi fundada em 600 a.C. pelos gregos e nunca deixou de lado suas origens helênicas.
Após a queda do Império Romano do Ocidente, foi reconquistada pelos bizantinos e posteriormente formou o Reino de Nápoles, independente do resto da Itália.
Cidade marítima, Nápoles tinha mais contatos com Constantinopla e Alexandria do que com a Europa continental.
Desta forma, a cultura napolitana é sui generis no contexto europeu, e isto pode ser comprovado pelas músicas deste CD.
São canções melancólicas ou irônicas, cantadas quase como um sussurro com o acompanhamento do violão (originalmente alaúde), e que evocam desde as primeiras notas a cultura mediterrânea, assemelhando-se à música grega e ao fado português.
A influência desta música simples e original foi tanta que no século 18 surgiu a escola napolitana de ópera.
Compositores como Pergolesi, Piccini, Paisielo e Cimarosa buscaram inspiração no cancioneiro napolitano. A moda expandiu-se pela Europa também em outros gêneros de música, como a sonata, surgindo o estilo "alla napoletana".
Apesar de seu caráter popular, estas canções demonstram uma forte tradição cultural, como é o caso da primeira música do disco, "La Cammesella", de um anônimo e datada de 1700, cujos versos são escritos em hexâmetro dáctilo, o mesmo metro da "Ilíada" de Homero ou da "Eneida" de Virgílio.
Desta forma, ao contrário do que possa parecer, este CD pode até ser erudito, mas encanta pela beleza e simplicidade de suas melodias e versos.

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