São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 1996
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Marlene cresce com Lang na direção

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Grandes reviravoltas eram frequentes nos filmes de Fritz Lang nos anos 50. As mais radicais são as de "Suplício de uma Alma". Tão radicais que o diretor acabou voltando à Alemanha depois dele.
"O Diabo Feito Mulher" (Cultura, 1h) também trabalha com isso. A dor de Arthur Kennedy, estampada em seu rosto contraído, acompanhará durante todo o filme sua busca por vingança.
Existe algo sinistro nesse rosto. Não é um homem puro, mas o assassinato de sua noiva de alguma forma o purifica. Mas é uma pureza oblíqua, cheia de sombras, que não chega a afastar de si a marca da maldade.
No caso oposto está Marlene Dietrich, mulher envolvida com a gangue responsável pelo crime. Notória vigarista, encarrega-se de falsear uma roleta. Não é bem prazer que isso lhe causa: seu rosto é uma máscara, que ela exibe para melhor ocultar qualquer sentimento.
Mas ela se deixará atrair por Kennedy. Por que razão? Pela obsessividade que ele manifesta, pela dor e pelo ódio que carrega, pelo mal que se insinua em seu rosto? Por tudo isso, talvez.
É aí que veremos a personagem de Marlene se transformar, como o negativo de um filme, mostrando seu exato oposto: a pureza e a disposição para o sacrifício.
Lang retorce seus personagens (haveria muito a dizer, ainda, sobre o de Mel Ferrer), da mesma forma como desdobra, amplifica, as virtudes de seus atores.
Talvez por isso Marlene tenha detestado trabalhar com Lang. E, anos mais, tarde, tenha reconhecido que fez, em "O Diabo Feito Mulher", um de seus trabalhos mais finos.

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