São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 1996
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75 anos

A Folha completa hoje 75 anos de existência. A efeméride sugere uma reflexão acerca de um problema que a própria Folha e a imprensa em geral vivem atualmente: o que é ser crítico?
Num passado não muito distante a questão era clara. Opor-se ao regime militar e apoiar a redemocratização bastavam para caracterizar um jornal como crítico.
Hoje, com o ocaso das ideologias e o quase consenso em torno do rumo que o país deve seguir, ser crítico tornou-se tarefa bem mais difícil. Não se trata mais de um embate no qual o "certo" e o "errado" eram claramente identificáveis. Agora, ser crítico significa apontar falhas e erros que ganham cada vez mais um caráter técnico, para cuja avaliação os jornalistas, muitas vezes, não estão preparados.
Com a despolitização da política, abre-se o espaço para o famoso "processo", sob o qual o governo procura se escudar para justificar tanto seus deslizes quanto as dificuldades realmente intransponíveis que encontra; vive-se, na política, uma era na qual as coisas são mas não são, tudo é cheio de nuanças, detalhes nem sempre visíveis ou mesmo compreensíveis.
O desafio para a imprensa, portanto, é aprender a distinguir, nesse novo caldo de cultura, o equívoco do obstáculo, o erro da fatalidade. Não se pode contudo deixar de ter em mente que, se há um quase consenso acerca do rumo, não o há quanto às rotas. Como se vê, em jornalismo, nem mesmo 75 anos são suficientes para amadurecer completamente.

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