São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 1996
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Aposentadoria de parlamentares; Inovações na Previdência; Lazer na USP; Crítica de cinema; Distância de segurança; Caos no Rio; Em defesa das universidades

Aposentadoria de parlamentares
"Tendo meu nome incluído na lista de deputados que supostamente estariam apoiando a permanência do IPC (Instituto de Previdência dos Congressistas), solicito à Folha publicar os seguintes esclarecimentos. Não voto e não aceito que se mantenha tal privilégio aos parlamentares. No momento em que o Congresso discute a reforma previdenciária, que pode implicar em mais sacrifícios para os trabalhadores, não seria justo que os deputados e senadores mantivessem tais privilégios. Como deputado estadual em São Paulo, lutei e votei a favor da extinção da aposentadoria especial para os parlamentares do Estado. Reafirmo que não mudei meu conceito e minha opinião sobre o assunto. Sou contrário ao IPC e, no momento oportuno, vou deixar patente esta posição, votando pelo fim das aposentadorias dos parlamentares. Esclareço que assinei a lista apresentada pelo deputado Nilson Gibson (PSB-PE) para permitir que o assunto fosse levado ao amplo debate no plenário. Reafirmo e antecipo meu voto contrário às aposentadorias especiais dos parlamentares e pela extinção do IPC."
Edinho Araújo, deputado federal pelo PMDB-SP (Brasília, DF)

Nota da Redação - O levantamento feito pela Folha levou em conta como manifestação de apoio ao IPC as assinaturas dos deputados no documento de "apoiamento ao destaque supressivo do artigo 15 do substitutivo". Esse artigo determina a discussão de mudanças no sistema de aposentadoria dos parlamentares, no prazo de um ano após a reforma da Previdência. Ou seja, o pedido do deputado Nilson Gibson, endossado pelos colegas, não era para debater melhor o assunto, mas justamente para evitar a discussão, retirando o artigo do texto da reforma.

Inovações na Previdência
"A despeito de não dispor de procuração do governo ou do deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM), relator da comissão especial que aprecia a proposta de emenda constitucional que visa reformar a Previdência Social, gostaria de restabelecer a verdade, tendo em vista o conteúdo do editorial 'Todo cuidado é pouco', de 8/2. O dispositivo que estabelece que 'lei complementar poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade' já está contido na redação atual do texto constitucional (artigo 195, parágrafo 4º), não sendo inovação proposta pelo substitutivo do relator. A inovação do relator, constante de seu substitutivo desde sua primeira leitura, realizada no final de novembro de 1995 (que não pode ser, portanto, criticada por ter sido incluída na última hora), é a instituição de contribuição social 'sobre o valor das transações financeiras, nos termos da lei'."
Marcos Eduardo Freitas Rodrigues (Curitiba, PR)

Lazer na USP
"O longo artigo do sr. Marcelo Coelho na Folha de 2/2 causa estupefação. Esse sr. assume perante a ciência, a cultura e a nação a responsabilidade de sugerir o fechamento da USP (Universidade de São Paulo). Tudo porque acha que a USP deveria ser centro de lazer. Suas faculdades deveriam povoar diferentes prédios da cidade, conforme vai estatuindo. Não, sr. Coelho, a finalidade da USP é outra. E suas autoridades devem defendê-la, para não traírem sua missão. Não tenho delegação da universidade, sou apenas um docente aposentado. Na minha vivência vi, às segundas-feiras ou dias posteriores a feriados, aparelhos caríssimos e necessários cobertos de poeira de jogos de futebol; lentes de microscópios sujas e os pouco sanitários disponíveis sobrecarregados e com detritos que os pobres funcionários da limpeza passavam mais três dias para repor em ordem. De fato, põe-se o dilema: ou universidade ou parque de lazer. As duas finalidades ali são incompatíveis. Nem a grama, pela qual o sr. Coelho parece ter especial carinho, fica salva: é a primeira a desaparecer, pisada pela festiva multidão. De modo que, aniquile-se a universidade, pois as sugestões meio jocosas do sr. Coelho são irrealizáveis."
José Afonso de Moraes B. Passos (São Paulo, SP)

Crítica de cinema
"É uma pena a Folha ter um 'crítico' de cinema tão chato e destrutivo quanto esse Sérgio Augusto. Será que ele só sabe destruir um filme, botar abaixo o trabalho de pessoas que deram duro? Esta carta vem a propósito da 'crítica' para 'Quando a Noite Cai', de Patricia Rozema (19/1). Está certo que não é nenhuma obra-prima, mas é exagero, no mínimo, gastar tanto espaço e papel para falar abobrinha, e de um filme que foi premiado em Berlim. Ele pode ter a opinião que bem entender, o chato é que ele transmite ser sempre assim, negativo. Compara Lassie com o cachorro do filme de Patricia Rozema! O que tem de tão ruim fazer realismo mágico no cinema? Infelizmente, nas raras vezes em que tive o desprazer de ler algumas 'críticas' do Sérgio Augusto, nunca li um elogio, algo construtivo. Como ainda nem tudo são espinhos, ainda bem que existe alguém de visão como o Marcelo Coelho, que soube reconhecer o mérito do trabalho de Patricia Rozema (31/1). Minhas congratulações a ele."
Emily R. Cardoso (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Sérgio Augusto - A leitora desconhece o que escrevi sobre cinema nos últimos 36 anos, nos mais importantes veículos de comunicação do país. Já elogiei muitos filmes, sobretudo quando eles eram mais criativos, interessantes e divertidos.
P.S. Detesto realismo mágico.

Distância de segurança
"Quando me encontro viajando, procuro manter uma distância de segurança em relação ao veículo da frente, mas aí vem um e entra na 'vaga', obrigando-me a recuar para criar novamente a tão importante distância de segurança. Peço a essas pessoas, que convenciono chamar de 'fora de posição' (f.d.p.), que procurem cumprir as regras básicas de trânsito, mantendo-se na velocidade do fluxo, e assim contribuam efetivamente por um relacionamento mais educado, no qual o f.d.p. passe a ser uma espécie em extinção."
Luiz Antônio da Silva (São Paulo, SP)

Caos no Rio
"O que já era previsto aconteceu. O Rio volta a sofrer com as chuvas de verão. Como se já não bastassem as condições climáticas, também colaboraram para o caos total o prefeito César Maia e seus secretários de urbanismo e de obras, que irresponsavelmente abriram ao mesmo tempo várias frentes de obras por toda a cidade, esburacando e causando transtorno aos cidadãos. Objetivo: o Projeto Rio Cidade, que não passa de um projeto eleitoreiro de maquiagem de locais estrategicamente escolhidos para iludir a população."
Ricardo Brito (Rio de Janeiro, RJ)

Em defesa das universidades
"É lastimável que, em editorial publicado em 5/2, a Folha tenha criticado o modo como nossas universidades subsistem economicamente. Seguimos o modelo francês de universidade, implantado na USP na primeira metade do século, e que concebe a universidade como instituição totalmente subsidiada pelo Estado. Nossas universidades são guardiãs do único foco de produção intelectual que temos no país, constituindo-se nas únicas instituições realmente de Primeiro Mundo que temos em nossa terra. Se a universidade dependesse de recursos privados para sua subsistência, por certo perderia sua autonomia de pensamento, sendo obrigada a fechar as portas de cursos irrelevantes à nossa 'sábia' opinião pública, a saber, cursos como filosofia, letras ou geografia. A universidade pública, até por não estar sujeita às garras de nossos bárbaros e inescrupulosos empresários, constitui-se no único local onde de fato se produz conhecimento. Erros existem, mas não os corrigimos pleiteando alterar uma estrutura que funciona. E as três universidades públicas de nosso Estado estão aí para confirmar."
José Fernando da Silva (São Paulo, SP)

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