São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 1996
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Grupo Algar muda estratégia comercial

FELIPE MIÚRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Agregar valor à produção agrícola, por meio da diferenciação dos produtos e do processamento da matéria-prima, é a receita do grupo Algar, de Uberlândia (MG), para melhorar a rentabilidade de suas fazendas.
Composto por 26 empresas, que atuam em diversos setores -de telefonia a informática-, o grupo iniciou, na semana passada, a colheita de 50 mil toneladas de grãos (soja e milho e feijão) em 11 fazendas espalhadas pelo Triângulo Mineiro.
O braço agropecuário da Algar, que inclui também a pecuária de corte e uma indústria de óleos vegetais, é responsável por 16% do faturamento total do grupo em 95 (US$ 600 milhões).
A partir de 89, o grupo iniciou a reformulação da estratégia comercial de suas empresas agrícolas, segundo Mário Grossi, vice-presidente da Algar.
"Partimos para a diversificação e a verticalização. Em vez de simplesmente vender soja e milho para outras indústrias, procuramos alternativas para valorizar a nossa produção", explica Mário Grossi.
Hoje, cerca de 10% da soja produzida pelo grupo é destinada a indústrias alimentícias que produzem bolos e bolachas.
A exigência para o fornecimento é que os grãos tenham hilo claro (variedade FT-Cristalina) e não tenham defeitos.
Em contrapartida, o preço é 20% superior ao do mercado.
O grupo também está produzindo milho doce (variedade Colorado), destinado às indústrias de enlatados.
"Nos próximos quatro anos, pretendemos investir US$ 60 milhões na área agrícola", informa Grossi.
Esses recursos serão aplicados em oito novos projetos.
Entre os planos da Algar está a parceria com empresas multinacionais de pesquisa em biotecnologia para o lançamento de sementes básicas.
"A idéia é conseguir materiais genéticos novos que possam atender consumidores específicos. Um exemplo seria produzir um milho mais mole que o normal para atender ao suíno de granja, que tem uma dentição menos resistente", diz Wilson Marcelo Prado, diretor da divisão agroalimentar do grupo.
Outro projeto do Algar é a produção de margarina, aproveitando a estrutura da indústria de óleo vegetal do grupo, em Uberlândia.
"Pretendemos lançar derivados do complexo soja, como cremes vegetais e óleos de alta qualidade, além de industrializar o milho", diz Grossi.
O segmento de alimentos pré-congelados também está nos planos do grupo.
"É um mercado em franca expansão", diz o vice-presidente do Algar.
"No ano 2000, metade dos gastos com alimentação será feito fora de casa, o que permite prever uma demanda crescente no mercado mundial por produtos alimentícios mais elaborados", acrescenta Wilson Marcelo Prado, citando um estudo da Universidade de Havard, nos EUA.
Segundo ele, as oportunidades no setor de alimentação ficam claras, diante das projeções, do Banco Mundial, de uma taxa de crescimento de 1,8% ao ano da população mundial até o ano 2000.
"Isto representa a incorporação de mais 1 bilhão de consumidores ao mercado na virada do século", destaca Prado.
O estudo de Harvard revela também, segundo Wilson Prado, que a renda do setor de processamento e distribuição de alimentos fechará o período 1950-2000 com aumento de 32 vezes, máquinas e insumos, 16 vezes e, produção agropecuária, 12 vezes.
No Brasil, as pesquisas indicam que o setor de processamento e distribuição de alimentos lidera o agribusiness, com 66% do faturamento total, contra 28% da produção agropecuária e 6% de máquinas, implementos e insumos.
"As grandes empresas agrícolas vão se consolidar e os pequenos produtores rurais não sobreviverão, devido à margem reduzida de lucros na comercialização", prevê Prado.

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