São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 1996
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Radiobrás desautoriza diretor a fazer censura

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Radiobrás (estatal de comunicação), o ex-deputado tucano Maurílio Ferreira Lima (PE), desautorizou ontem o seu diretor musical, Antônio Antunes Praxedes, a censurar as músicas do grupo Mamonas Assassinas.
A ordem foi dada em nota oficial enviada da Indonésia, onde Lima está passando o Carnaval. Na mesma nota, Lima manda instaurar investigação sobre a rádio Nacional-Rio.
Em carta enviada à presidência da Radiobrás na sexta-feira, um grupo de sambistas da Mangueira, Portela e Império Serrano acusa os locutores da Nacional-Rio de cobrar propinas para executar os sambas-enredo das escolas.
Lima tomou conhecimento da acusação e da censura musical ao ler pela Internet, em Jacarta, capital da Indonésia, o noticiário da imprensa brasileira.
Censura
Em reunião com os programadores musicais das rádios Nacional do Rio e Brasília, que pertencem à Radiobrás, Praxedes manifestou preocupação com o nível da programação das emissoras.
Mesmo não emitindo ordem escrita, o diretor manifestou a intenção de proibir a execução das músicas do grupo Mamonas Assassinas como exemplo para elevar a qualidade musical.
Ontem, em nota oficial, Lima pediu que "os incomodados com as letras musicais desse conjunto se dirijam aos órgãos competentes ou utilizem os instrumentos judiciais". Em sua opinião, "não sendo a Radiobrás órgão com nenhuma responsabilidade pela censura no país, não nos cabe censurar a divulgação de nenhuma música nas nossas emissoras".
Em entrevista à Folha no sábado, Praxedes se disse incomodado com a quantidade de palavrões usados nas letras dos Mamonas e afirmou que sua neta de 7 anos estaria falando em "suruba", termo citado na música "Vira-Vira".
Ao saber da nota de Lima, Praxedes disse à Folha que não dera qualquer ordem de censura. "Apenas manifestei preocupação com o fato de uma emissora oficial não ter uma estratégia de programação e executar músicas fora da orientação dada". A orientação, segundo ele, "é tocar música brasileira de nível e de raiz (popular)".
O diretor musical, que responde interinamente pela presidência da Radiobrás, confirmou a acusação dos sambistas e disse que já pediu ao gerente da Nacional-Rio para identificar quem assinou a carta e, assim, formalizar a denúncia.

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