São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 1996
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México propõe acordo com países do Mercosul

EMANUEL NERI
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

A exemplo do Chile e da Bolívia, o México também quer fazer acordo com o Mercosul. A proposta, considerada "ampla e ambiciosa" pelo governo brasileiro, foi feita ontem pelo presidente mexicano Ernesto Zedillo a Fernando Henrique Cardoso.
A oferta surpreendeu a comitiva presidencial que visita o México. É que o país já integra o Nafta, acordo de livre comércio que inclui ainda Estados Unidos e Canadá. FHC se comprometeu a apresentar a proposta mexicana aos demais membros do Mercosul.
Mais tarde, FHC disse que a proposta mexicana "mostra a força do Mercosul e o quanto ele é importante". O presidente disse que a proposta é uma "problemática nova", porque o México já integra o Nafta. "Vamos conversar com os parceiros", disse.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Felipe Lampreia, disse que a proposta mexicana foi feita durante a reunião de trabalho ontem pela manhã entre FHC e Zedillo. O interesse mexicano pelo Mercosul criou uma série de especulações políticas sobre a relação do país com o Nafta.
Para Lampreia, no entanto, o México sempre teve uma "política de endereços múltiplos". Ele não quis comentar se a opção pelo Mercosul representa fragilidade do México com seus sócios do Nafta.
"O México sempre teve uma preocupação de ser e permanecer latino-americano", afirmou Lampreia. Os dois outros participantes do Nafta não intergram a América Latina.
A proposta mexicana de acordo com o Mercosul inclui três pontos. O primeiro prevê a redução de tarifas alfandegárias entre o México e os quatro países do Mercosul.
O segundo estabelece a liberação de atividades de serviços -como financeiros, de comunicação e de engenharia- entre os países.
O terceiro ponto prevê a fixação de normas para investimentos entre México e Mercosul, além de regras de proteção à propriedade intelectual.
Para Lampreia, a proposta mexicana chega a ser mais "ambiciosa" do que o acordo que está sendo feito pelo Mercosul com a Bolívia e o Chile.
Segundo o ministro, o acordo com esses dois outros países é apenas de livre comércio, sem incluir investimentos em serviços e proteção intelectual.
Segundo Lampreia, há necessidade de mais detalhes da proposta mexicana. "É complexa e tem implicações importantes", afirmou. "Mas é positiva e interessante."
Segundo o ministro, FHC não pôde dar nenhuma resposta ao seu colega mexicano porque "depende dos outros sócios" do Mercosul.
Com PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 350 bilhões e população de mais de 80 milhões de habitantes, o México tem perdido terreno no comércio com os países sul-americanos depois do Mercosul.
Antes, o país lançava mão de acordos da Aladi (Associação Latino-americana de Integração) para estabelecer redução de tarifas com outros países. Mas isso perdeu força com o surgimento do Mercosul.
Para o Brasil, seu principal parceiro, as exportações mexicanas ficaram no ano passado em torno de US$ 900 milhões.
O México busca mercados mais atraentes. Só o comércio do Brasil para a Argentina está em torno de US$ 10 bilhões por ano. A crise que o México enfrenta desde o final de 1994 também levou o país a procurar novos parceiros.
Jantar
Na noite de segunda-feira, FHC jantou com o presidente Zedillo e intelectuais. Estavam presentes dois ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura - o colombiano Gabriel García Márquez e o mexicano Octavio Paz.
Hoje, FHC volta a se encontrar com intelectuais em palestra no Colégio do México, um dos principais centros acadêmicos do país.
FHC também se encontrou ontem à tarde com os principais líderes dos partidos de oposição, entre eles Cuauhtémoc Cárdenas, do Partido Revolucionário Democrático, que disputou a última eleição presidencial com Zedillo.

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