São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 1996 |
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Nafta causa desequilíbrios
FLAVIO CASTELLOTTI
Hoje, 80% do fluxo de comércio internacional do México é efetuado com os EUA, o que torna a economia do país muito sensível a pequenas mudanças na taxa de câmbio ou nos juros norte-americanos. Instituído em janeiro de 94, o Nafta não só arrasou com os setores mais frágeis da indústria mexicana (por meio de crescentes importações), mas também contribuiu para a descompensação de preços internacionais, que resultou na crise mexicana de dezembro de 94. "Apesar de seus pontos positivos, deve-se admitir que o Nafta foi uma das causas da crise", disse à Folha o economista Andrés Flores. Segundo Flores, o país não estava pronto para competir em pé de igualdade com a indústria norte-americana. "Tudo foi feito rápido demais", explica. O acordo serviu também como um chamariz para o capital volátil dos investidores internacionais. Os cerca de US$ 90 bilhões que entraram em 94 não demoraram a sair quando a crise estourou, gerando uma fuga maciça de capitais e consequente desvalorização de 55% do peso em relação ao dólar. Para Flores, a intenção do México de integrar-se ao Mercosul nada mais é do que uma tentativa de diversificar seus parceiros comerciais, diminuindo assim seu grau de dependência com relação aos EUA. "Seria muito positivo para a economia mexicana", opina ele. Flores adverte porém que isso poderia representar um risco para o Brasil e a Argentina. Atualmente as moedas de ambos os países estão supervalorizadas e o peso mexicano continua abaixo de seu valor real no mercado internacional, avalia ele. Portanto, taxas e preferências comerciais entre México e Mercosul poderiam gerar um boom de exportações mexicanas para os dois países. Modernização Mas o Nafta tem também os seus pontos positivos, diz Flores. Setores da industria mexicana que já estavam consolidados e não iriam desaparecer devido à concorrência internacional, foram obrigados a se modernizar. A Volkswagen mexicana, por exemplo, fabrica há três anos o mesmo Golf produzido na Europa. A versão mais simples do carro sai por menos de US$ 10 mil para o consumidor final. No Brasil, o modelo ainda não é fabricado e o importado sai por US$ 22 mil. Além disso, na avaliação de Flores, o tratado é muito positivo a longo prazo. "A globalização da economia é um processo irreversível. Quanto antes um país ingressa nele, melhor." Texto Anterior: FHC dribla rusga entre intelectuais Próximo Texto: Eleição vai provocar reforma ministerial Índice |
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