São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 1996
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PAS _ A praga do corporativismo

RICARDO IZAR

A briga na Justiça continua, o que é uma pena. Uma liminar determinou a suspensão do Programa de Assistência à Saúde - PAS, instituído pela Prefeitura de São Paulo como uma solução inovadora para iniciar a recuperação do falido sistema público de saúde. A prefeitura recorreu, apoiada numa opinião que vale muito mais do que a resistência da praga do corporativismo, cultivada com dedicação por muitos dos sindicatos de funcionários públicos que atuam à sombra do PT.
É o corporativismo que estimula a defesa de sistemas de trabalho que fazem dos serviços públicos, com raras exceções, um péssimo exemplo de ineficiência, de privilégios abusivos e de desrespeito aos direitos da população. É o corporativismo que, na prática, patrocina boa parte das chocantes cenas de doentes desassistidos e amontoados nos corredores de tantos hospitais públicos.
Com o PAS, a Prefeitura de São Paulo assume sua parte na obrigação constitucional de garantir saúde para os seus cidadãos. Para isso, coloca em prática uma proposta moderna que quebra os abusos do corporativismo na área de saúde pública e entrega o atendimento médico a profissionais que realmente trabalhem para merecer o que recebem dos cofres municipais.
A iniciativa foi inaugurada no Hospital de Pirituba-Perus e, como toda inovação, necessita de ajustes para funcionar com o máximo de eficiência. Esses são alguns dos argumentos em defesa do PAS, que ganham muito mais força com a avaliação que realmente conta: a opinião de quem utiliza os serviços públicos de saúde e, até aqui, praticamente só tinha o dever de pagar a conta, na forma de impostos, e não tinha sequer o direito de contar com a presença certa de médicos em horário normal de trabalho.
Uma pesquisa do Ibope mostra que 77% dos usuários consideram ótimo/bom e 88% apóiam o PAS no Hospital de Pirituba-Perus. Essa é a opinião que realmente deve valer para os responsáveis pelo sistema público de saúde nas esferas municipal, estadual e federal. Pelo menos é o que estimula os defensores de uma sociedade mais justa a superar obstáculos e mostrar que crise da área da saúde também tem solução concreta, com iniciativas inovadoras como o PAS.
Basta ter coragem de enfrentar o corporativismo e defender, como prioridade, o direito dos cidadãos de dispor de um serviço público de saúde que merece. Em português claro, se alguém precisa sofrer nos hospitais públicos, todos nós, bons brasileiros, preferimos que sejam os maus funcionários e não o povo que procura os serviços a que tem direito.

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