São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 1996
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Vaias e aplausos errados

ALOYSIO BIONDI

Até o último dia 10, o Ministério da Fazenda havia liberado apenas R$ 26 milhões para as despesas dos demais ministérios no mês de fevereiro -segundo os próprios assessores de Malan.
As despesas de custeio e investimento desses ministérios, de acordo com o Orçamento da União, estão na casa de R$ 1,1 bilhão por mês. Ou seja, R$ 40 milhões por dia.
Vale dizer: em dez dias de fevereiro, os ministérios não tinham recebido sequer o valor a que teriam direito -por dia-, para funcionar. Com esses números, fica fácil entender o mar de catástrofes que vem assolando o Brasil.
Os serviços públicos, a imagem do Estado têm sido destruídos no Brasil por causa da verdadeira ditadura das equipes econômicas.
Elas agem autoritariamente, desrespeitam o orçamento, aprovado pelo Congresso e liberam as verbas a seu bel prazer, impondo suas próprias prioridades ao país. Atendem a quem lhes interessa.
Não se alegue que o "arrocho deste começo de ano é compreensível, diante do rombo do orçamento em janeiro -que continua muitíssimo mal explicado.
Em 95, segundo o próprio Ministério da Fazenda, foram liberadas, para os ministérios, verbas equivalentes a 55% do Orçamento aprovado. Até agora, não se sabe onde foi aplicada a "sobra" de dinheiro, informação a que o Congresso e a sociedade têm direito.
Os descaminhos na execução do Orçamento raramente são percebidos pelos formadores de opinião. Eles costumam criticar os "ministros gastadores", jogando a opinião pública contra os ministérios que apenas querem as verbas que lhes pertencem pela lei orçamentária. E aplaudem as equipes econômicas "austeras".
Mui amigos
Revelação de um dirigente da Ericsson: o setor de equipamentos eletrônicos foi muito bem em 1995. Razão: as encomendas da Telebrás, do ministro Sérgio Motta, dispararam em dezembro.
A empresa gastou R$ 4 bilhões no ano, contra a média de R$ 3,5 bilhões nos anos anteriores. Para 95, prevê um salto para R$ 7,0 bilhões.
Supérfluos
Programas de assistência ao menor e adolescente, famosas prioridades nacionais, não haviam recebido um centavo sequer até setembro último. Um exemplo da retenção de verbas pela Fazenda.
Revelação da reportagem desta Folha.
Essencial
O ministro Sérgio Motta anunciou metas ambiciosas de investimentos para este ano. Serão instalados 2,4 milhões de terminais para telefones celulares, o triplo dos 800 mil hoje em funcionamento.
Telefones públicos serão mais t-r-i-n-t-a mil. Ou 7% sobre os 370 mil atuais.
PIstério
Para o IBGE, o PIB (total dos valores dos bens e serviços produzidos no país) cresceu 4,2% em 1995, um número convenientemente próximo dos 5% que o governo FHC prometeu ao longo do ano. O crescimento da indústria teria ficado em 2%, mesmo com a queda de dezembro.
Estranheza
A expansão do PIB teria tido forte contribuição da agricultura, com praticamente 6% de crescimento em 1995. A explicar, pois o próprio governo admite que houve queda na renda agrícola em 1995.
E queda acentuada.
Contradição
Ainda de acordo com o IBGE, o setor de serviços também cresceu quase 6%, com forte contribuição da receita das companhias telefônicas, que teriam avançado nada menos que 25%.
Falta explicar, pois a Telebrás sofreu fortes perdas com a contenção de tarifas. Seus lucros caíram de R$ 800 milhões para algo como R$ 150 milhões nos nove primeiros meses de 1995.
Máximos?
A comida de 6.800 presos da Penitenciária do Carandiru, em São Paulo, era feita pelos próprios presos. Alegando questões de segurança, o governo Covas resolveu "terceirizar" o fornecimento de refeições, comprando-as de uma empresa especializada. Gastos: R$ 1,5 milhão por mês. Sem licitação.
Filé
O gasto, dividido por 6.800 presos, significa R$ 22 reais por dia (R$ 16 por duas refeições a R$ 7,50 cada, sobrando R$ 7 reais para os cafés da manhã e da tarde). São R$ 660 por preso/mês. Talvez o custo fosse dez vezes mais barato se uma empresa fosse contratada para administrar e preparar, com funcionários próprios, as refeições na cozinha do presídio.
Perguntinha
A inflação está sendo controlada pelo Plano Real ou pela recessão?

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