São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 1996 |
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Os Mamonas Em termos estéticos, não há como não considerar forte e de gosto duvidoso a letra do "Vira-Vira", dos Mamonas Assassinas. A idéia de censurar a música nas rádios que integram a rede oficial (Radiobrás) entretanto é descabida. Obviamente, um pai que flagrar seu filho cantando os trechos da música que falam em suruba tem todo o direito de sentir-se chocado, ofendido. Ocorre, porém, que é impossível traçar um limite entre o que é arte e o que é um amontoado de frases de mau gosto. E, se se admitir a censura ao que é de mau gosto, corre-se o risco maior de levar a censura a extremos inaceitáveis. Assim, o gozo da plena liberdade de criação artística é uma premissa da democracia. São abundantes na história da arte os exemplos de obras hoje consideradas clássicas que, por em dado momento ofender a certas mentalidades, foram objeto de disputa judicial ou mesmo de pura e simples censura "manu militari". Foi preciso que se passassem os anos para essas obras firmarem-se como os clássicos que hoje são. Certamente este não é o caso do "Vira-Vira". É claro também que, sob o argumento da plena liberdade de criação, muito lixo foi produzido. O tempo encarregou-se de jogar esse lixo no devido esquecimento. Como é impossível decidir "a priori" o que é boa arte e o que não é, a única solução é observar o princípio da liberdade de criação. Algumas aberrações como o "Vira-Vira" são o preço a pagar para viver numa democracia. O tempo julgará se o que o grupo produz é arte ou lixo. É praticamente certo que integre a segunda categoria. Texto Anterior: Privilegium Próximo Texto: Overdose publicitária Índice |
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