São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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Empresariado apóia união Mercosul-México

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários brasileiros ligados ao Mercosul, ouvidos ontem pela Folha, avaliam positivamente a proposta do presidente mexicano, Ernesto Zedillo, de um acordo econômico entre o bloco Brasil-Argentina-Uruguai-Paraguai e seu país.
A proposta foi feita na segunda-feira ao presidente Fernando Henrique Cardoso, em visita à Cidade do México.
Na avaliação dos empresários, acabou o sonho mexicano em alcançar o nível econômico dos EUA e Canadá por meio de sua inserção no Nafta (acordo de livre comércio da América do Norte).
A busca de novos mercados está por trás do interesse mexicano de integração com o Mercosul e mostra uma mudança de atitude mexicana em relação aos países latino-americanos.
Luiz Fernando Furlan, diretor titular do Departamento de Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que a proposta surpreendeu porque o México estava voltado exclusivamente para o Norte do continente americano.
Furlan afirma que a recessão mexicana exige a busca de um mercado que os EUA não têm apresentado devido à oposição do Congresso ao avanço do Nafta e aos problemas políticos do ano eleitoral no país.
"Os mexicanos estão com a corda no pescoço, passando por um ajuste traumático depois da desvalorização da moeda em 100% em um ano e precisam exportar", afirma.
Michel Alaby, vice-presidente da Adebim (Associação das Empresas Brasileiras para a Integração do Mercosul), diz que a proposta do México é um muito mais um "balão de ensaio".
Ele afirma que a idéia deve ser discutida amplamente, mas não vê resultados práticos a curto prazo. Ele lembra que o México é forte concorrente do Brasil nas exportações de autopeças, automóveis, têxteis, suco de laranja e calçados para os EUA e Canadá.
Ele diz ser difícil, sem conhecer os detalhes da proposta mexicana, definir os setores que ganhariam ou perderiam com uma possível redução de barreiras alfandegárias entre México e Mercosul.
"Do ponto de vista global, os acordos de integração abrem mercados para novos produtos e aumentam o volume de comércio."
Antonio Fernando Guimarães Bessa, coordenador da Comissão Interdepartamental para Assuntos do Mercosul da Fiesp, diz que o interesse mexicano no Mercosul mostra que o Nafta não avançou como o México esperava.
"O Nafta representou para os mexicanos um sonho de uma integração total e ampla com os EUA e o Canadá, mas que não aconteceu", diz.
"O fim desse sonho faz com que o México volte a ver em parceiros de menor calibre oportunidades de acordos comerciais vantajosos", afirma.
Para Juan Manuel Quirós, ex-coordenador da Comissão Interdepartamental da Fiesp para o Mercosul, o Brasil deveria olhar "com carinho" a proposta.
"O Brasil e seus parcerios no Mercosul deveriam usar o México em uma política estratégica de negoaição com o Nafta", afirma.
Quirós diz que é preciso saber se o interesse do México no Mercosul é firme, de longo prazo, ou momentâneo, devido aos problemas no Nafta e da recessão econômica no país.
Quirós diz que o Mercosul só tem a ganhar com um acordo com o México, a exemplo dos acordos com a Bolívia, já assinado, e com o Chile, a ser assinado no mês que vem: "Novos parceiros significam novos mercados e mais oportunidades de negócios".
Benedito dos Santos, gerente do Departamento de Comércio Exterior da Fiesp, avalia que a proposta de Zedillo mostra que o "México descobriu o Brasil".
Santos diz que os números do comércio bilateral confirmam sua tese: as exportações mexicanas para o Brasil cresceram cerca de 200% no período janeiro a outubro de 1995 em comparação com igual período do ano anterior.
As vendas mexicanas ao Brasil saltaram de US$ 235 milhões para US$ 705 milhões, principalmente veículos, tecidos de algodão, cobertores e mantas, motores e máquinas industriais.
As exportações brasileiras para o México caíram de US$ 880 milhões para US$ 420 milhões no mesmo período. O México, 16º na lista de parceiros comerciais do Brasil, representou 1,69% das exportações brasileiras de janeiro a outubro do ano passado.

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