São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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FHC e igreja identificam mesma problemática

REINALDO AZEVEDO
COORDENADOR DE POLÍTICA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Há similaridade de temas e diagnóstico entre o que está na cartilha da CNBB e a conferência que o presidente Fernando Henrique Cardoso pronunciou anteontem no Colégio do México.
Ambos tratam dos reflexos negativos da globalização da economia, afirmam que o neoliberalismo tem-se mostrado incapaz de apontar soluções para a crise social, vêem a diminuição do poder dos Estados nacionais e apontam o desemprego como um dos principais problemas do momento.
Igreja e governo não estão necessariamente mais próximos por isso, apesar da linguagem mais comportada da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), hoje sob o comando do conservador d. Lucas Moreira Neves.
A diferença é aquela que distingue as razões da igreja das razões de Estado, a CNBB do governo ou a ética cristã do espírito laico.
Como chefe de um Estado leigo, FHC reconhece o caráter necessariamente ambíguo da nova ordem mundial. Sua avaliação é crítica sem jamais ser moral.
Lembra que ela traz o chamado "desemprego estrutural" -decorrente de setores que se modernizam tecnicamente e são levados a demitir mão-de-obra-, mas também causa a "pulverização do capital", ou sua democratização.
FHC dá como realidade fatal os excluídos da nova ordem e acena para eles com políticas de Estado para minorar os efeitos da crise: investimento na infra-estrutura e em setores empregadores de mão-de-obra. É o que os economistas chamam "políticas compensatórias".
A igreja moraliza os efeitos do mercado sem fronteiras e opõe sua racionalidade aos valores humanos. Rejeita compensações e quer distribuição de renda e investimento em saúde e educação.
FHC vê na globalização, apesar das ressalvas, a chance de um novo "Renascimento". A igreja conclama a organização dos excluídos contra a nova barbárie.
Ambos localizaram o mesmo fenômeno. A questão é saber quem vai contar a história.

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