São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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CNBB aponta prejuízos da globalização

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) quer influir nas eleições municipais deste ano e escolheu a globalização da economia e o neoliberalismo como dois dos alvos da Campanha da Fraternidade, cujo tema deste ano é "Fraternidade e Política".
Sob o lema "Justiça e Paz se Abraçarão", a CNBB faz um diagnóstico da nova ordem mundial, afirma que o neoliberalismo tem "preconizado o corte nos investimentos sociais" e que os efeitos dessa prática no Brasil têm sido especialmente perversos.
Os eleitores devem, portanto, ficar atentos para os efeitos provocados por essas políticas.
Quanto à globalização -entendida como o fim das barreiras comerciais entre os países e o triunfo da economia de mercado-, a igreja aponta o surgimento de prejuízos aos valores cristãos quando a razão econômica se sobrepõe aos direitos humanos.
Cartilha
A igreja elaborou uma cartilha, composta de 214 pequenos capítulos, que começa afirmando que "o ser humano é um ser político", lembra as obrigações dos cristãos para com a cidadania, prega o voto consciente e conclui pedindo relações mais justas e fraternas entre os homens.
Para tanto, afirma a CNBB, o voto deve ser necessariamente crítico. A cartilha traz até uma lista com os vários tipos de político que tentariam enganar o eleitor.
O secretário-geral da CNBB, d. Raymundo Damasceno Assis, bispo-auxiliar de Brasília, disse ontem, ao anunciar formalmente a nova campanha, que a hierarquia da igreja não vai indicar nomes de candidatos, "mas divulgar critérios para que os cristãos façam boas escolhas".
A cartilha, de 112 páginas, é utilizada como o "texto-base" nas discussões de grupos de católicos e nos sermões dos sacerdotes.
O livro é vendido em algumas livrarias por R$ 3. Foi concluído em outubro do ano passado, já na gestão de d. Lucas Moreira Neves como presidente da CNBB.
Ele inclui críticas ao processo eleitoral brasileiro, em que "os representantes da minoria opulenta conquistam através do clientelismo maior número de cadeiras no Legislativo."
A lei eleitoral é ruim, segundo a CNBB, porque não prevê dispositivos adequados para evitar o uso da máquina pública e o abuso do poder econômico nas campanhas eleitorais.
Evangélicos
Existe uma menção explícita aos políticos que se dizem evangélicos pentecostais: alguns representantes dessas igrejas seriam pouco atentos aos apelos da população, avalia a hierarquia católica brasileira.
Como exemplo de voto sem consciência, o livro cita uma reportagem da Folha, publicada em 1994, mostrando um agricultor do interior de Pernambuco que não sabia o nome de nenhum dos candidatos às eleições e admitia votar "no escuro".
A Campanha da Fraternidade é lançada sempre na Quarta-Feira de Cinzas, o primeiro dia da quaresma (período de quarenta dias de preparação para a Páscoa).
O tema da campanha de 1997 já está definido: os presidiários. Em junho, após reunião de avaliação da CNBB, vai ser escolhido o tema de 1998.

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