São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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Exclusão social leva à violência, diz OAB

DA REPORTAGEM LOCAL

Para o advogado Jairo Fonseca, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a exclusão social alimenta a violência.
Ele afirmou que, "quando chega a níveis como os atuais, a criminalidade não é mais um problema de polícia e sim de política".
Segundo ele, no Carnaval, com uma maior liberação, fica mais evidente o estado de contenção social em que vivem os mais pobres.
Para Fonseca, não se pode atribuir o aumento nos homicídios exclusivamente às drogas.
"É inegável que há um aumento no consumo, mas não é fator determinante para o aumento dos assassinatos. Em sua maioria, esses crimes ocorrem em brigas por motivos banais. As pessoas vivem acumulando infelicidades e isso explode em um momento como o Carnaval, em que todos são incentivados a ficar felizes, quando muitas vezes nem estão preparados psicologicamente para isso."
Maria Ignês Bierrenbach, presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, acredita que é preciso "diminuir os níveis de violência no cotidiano das pessoas" para reduzir o número de homicídios.
Ela diz que normalmente ocorre um aumento nos indicadores de violência nos finais de semana e que isso piora no Carnaval, "quando os costumes e emoções ficam mais liberados".
Para Bierrenbach, é necessário resgatar a cidadania das pessoas. Ela citou o acesso à educação e a diminuição da violência policial como as medidas mais urgentes nesse sentido.
"Fazer maiores investimentos em educação, no menor prazo possível, e melhorar a seleção e a formação do policial ajudariam."
Na opinião de Guaracy Mingardi, 40, pesquisador do Núcleo de Estudos de Violência da USP, é difícil prevenir o homicídio comum, "como aquele que acontece em decorrência de uma briga de bar, por exemplo".
"Mas o Estado pode controlar o que propicia um aumento nos homicídios, como a compra e uso de armas e os locais onde o consumo de bebidas é alto", disse.
O pesquisador afirmou que dados de crimes na zona sul de São Paulo (a mais violenta da cidade) mostram que 89% dos homicídios são praticados com armas de fogo.
"Um controle eficaz das armas diminuiria os números de assassinato com certeza."
Mingardi disse que, atualmente, qualquer pessoa com emprego registrado em carteira há um ano e sem antecedentes criminais pode comprar uma arma.
"Ninguém testa se essa pessoa pode ter ou sabe usar uma arma. Isso sem falar nas armas ilegais, que custam barato e são ainda mais fáceis de comprar."
Segundo ele, poderia haver um controle dos locais de venda de bebidas alcoólicas, semelhante ao da Inglaterra, onde há restrições no horário de funcionamento.
"Em São Paulo há bares que ficam abertos 24 horas. Muitos assassinatos acontecem após brigas nesses bares ou nas imediações."

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