São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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Tarantino une violência a vampirismo

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

Um filme que juntasse dois dos diretores mais badalados de Hollywood com o protagonista da série de TV de maior audiência nos EUA dificilmente passaria desapercebido por crítica e público.
Mesmo que fosse lançado apenas três semanas antes do anúncio dos candidatos ao Oscar, período arriscadíssimo para a estréia de filmes, já que todos os holofotes se voltam para os concorrentes.
"Um Drink no Inferno" ("From Dusk Till Down") -dirigido por Robert Rodriguez e com roteiro de Quentin Tarantino- conseguiu realizar a façanha e ficou duas semanas em primeiro lugar nos EUA desde sua estréia em janeiro. Deve entrar em cartaz no Brasil no final de março.
O filme é uma mistura de "Cães de Aluguel" com "A Noite dos Mortos Vivos", estrelado por George Clooney, o pediatra bonitão da série "Plantão Médico" e um dos atores mais assediados hoje em dia nos Estados Unidos (leia texto ao lado).
A primeira parte de "Um Drink no Inferno" dura quase uma hora e lembra muito os thrillers hiperviolentos de Tarantino.
Dois irmãos -Clooney e o próprio Tarantino- assaltam um banco e vão deixando uma trilha de mortes enquanto tentam chegar à fronteira do México.
Seth Gecko (Clooney) é controlado, charmoso e odeia matar seus reféns. Seu lema é algo como "não tente bancar o engraçadinho comigo que tudo ficará OK".
Já o caçula da família Gecko, Richard (Tarantino), é lunático, tarado e tem pavio curto. Para desespero de Seth, Richard não consegue ficar a sós com algum refém sem estourar os miolos da vítima.
Os dois estão seguindo rumo ao México quando encontram a família do pastor Jacob Fuller (Harvey Keitel) e decidem usá-la como passaporte para cruzar a fronteira.
Há duas cenas nesta primeira metade de "Um Drink no Inferno" que lembram os melhores momentos de Tarantino: uma acontece no início do filme, quando eles invadem uma loja de conveniência numa rodovia deserta do Texas para um roubo simples e terminam explodindo o lugar.
Outra sequência de destaque é um diálogo entre Fuller e seu filho adotivo chinês analisando prós e contras de dedurar irmãos criminosos na hora de cruzar a fronteira.
A segunda parte começa quando as famílias Gecko e Fuller entram no México e param num inferninho na beira da estrada onde Seth e Richard deveriam encontrar com seus parceiros no roubo ao banco.
A partir da hora em que entram no bar, "Um Drink no Inferno" vira uma mistura de comédia e terror de vampiros, com direito a corpos derretendo, pernas e braços andando sozinhos e sangue espirrando para todos os lados.
O show de tecnologia barata que tornou Rodriguez famoso em seu filme de estréia ("El Mariachi") é divertido, mas dura muito.
A dança sensual de Selma Hayek, que atinge o clímax com o culto aos pés (marca registrada de Tarantino), ajuda a passar o tempo dos quase 40 minutos initerruptos de luta contra os vampiros.
Outro bom momento do filme é o reencontro do pastor Fuller com a fé. Mas é pena que a sequência termina se perdendo em meio a morcegos, estacas e crucifixos.

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