São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RuPaul alegra 2.500 no Rio

ERIKA PALOMINO
NO RIO

"Não vou voltar, eu já estou em casa", disse RuPaul em seu show, no sábado de Carnaval, no Rio. Delicadezas à parte, existe sim a intenção de que RuPaul volte ao país, desta vez para um show em São Paulo, que deverá ser marcado ainda no primeiro semestre.
A drag queen ícone dos 90 adorou o país, o público e o Carnaval. Sua apresentação, batizada de modo épico de "RuPaul in Rio", firmou de uma vez só vínculos indissolúveis e incontestáveis entre cultura club, cena gay, diversão desencanada, povo fashion, artistas, descolados e, de sobra, o Carnaval carioca.
O esquema todo pôs profissionalismo à questão drag. Toda a Fundição Progresso tinha uma aura de glamour e luxo, chic-ismo e elegância (à sua moda). Ao contrário dos shows de travestis e transformistas que acontecem mundo afora, que têm caráter underground e, muitas vezes, decadente.
Atores, antropólogos, produtores de todo o tipo de atividade, jornalistas, truqueiros e clubbers (2.500 pessoas, ao todo) circulavam pelos três andares e vários ambientes do espaço, ao lado dos cenográficos Arcos da Lapa.
A decoração misturava escola de samba com itens fluo, mais imagens de jacarés, leões e grandes bonecos, em resultado onírico. Luz negra, canhões multicores vindos de todos os lados e também raio laser realizavam combinações inventivas e alegres.
Numa sala vip, erguida sobre o salão principal, os vips em si olhavam do alto o povo se acabando, com o clássico distanciamento vip, em meio à muita bebida e comida.
Mas como vip só faz carão e segura copo, animado mesmo estava lá embaixo. Um som de alta potência embalava as sequências da melhor house music e garage no momento, saídos do "case" do top DJ Felipe Venancio. Pista lotada.
Finalmente, lá pelas 2h, entra a Rainha-Mãe. "Meu nome é RuPaul, the supermodel of the world", apresenta-se, congelando numa clássica pose de traveca, com os braços para cima. Gritaria.
A roupa era um vestido curto, de alças, em paetê dourado. Estava com a boa peruca loura de sempre e salto fino. Básica, portanto.
Já foi logo comentando: "Vocês gostaram do meu modelo? Essa é a frente, essas são as costas", disse, virando-se. Mais gritaria.
E tudo o que ela fazia o povo gritava de volta. Simpatia e empatia puras.
O fundamento da performance de RuPaul não vem dos tradicionais shows de transformismo. Ela não executa coreografias elaboradas, mas faz aqui e ali passinhos dramáticos, de efeito.
Tem um quê de Diana Ross nos clássicos momentos "é tão bom estar aqui; I love you all", mas a movimentação é toda Tina Turner. Menos gay e mais rock, portanto. (O fato se comprovou também pela camiseta da turnê 93 da cantora, usada por RuPaul na sexta-feira.)
Daí passou a falar com o público, pedindo perguntas. A todas respondia com bom humor, finalizando com uma indefectível risadona forçada, tipo diva mesmo.
Lambeu os dedos, comentando a beleza dos rapazes brasileiros e explicou que sua peruca é loura "porque as louras se divertem mais". Outra risada.
E por falar em peruca, não teve muita troca de modelo não. Em duas pausas, RuPaul demorou, elevando as expectativas mas aparecendo somente com um boá de penas pink e, depois, com uma imensa e horrível capa esvoaçante.
Também não teve Carmen Miranda, apenas um pequeno trecho de "Aquarela do Brasil". RuPaul brilhou em "Supermodel", mas decepcionou fãs ao não cantar "A Shady Shade" e "Free to Be", de "Wigstock". O show de fato não foi longo. Ainda bem. Show de drag é assim mesmo.

Texto Anterior: CLIPE
Próximo Texto: Estilista francesa faz desfile em SP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.