São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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Acapulco representa a atração pelo bizarro

MARCELO REZENDE
DO ENVIADO ESPECIAL A ACAPULCO

Para o escritor mexicano Juan Villoro, amar o seu país é se entregar "ao prazer fatal da mulher barbada". Acapulco pertence, talvez com mais direitos do que qualquer outra cidade do México, a essa metáfora da atração pelo bizarro.
Há um grau de extraordinária estranheza em seus territórios divididos. Um pouco como se Acapulco contivesse três cidades em uma: a primeira, antiga e abandonada, é fruto da invasão norte-americana- ou de Hollywood- nos anos 30. Dessa invasão hoje resta apenas memória.
Em seguida, o visitante encontra o reino do México ideal ("Acapulco Dourada"), a parte da cidade que foi capitalizada de forma extrema nas últimas décadas, com investimentos das grandes redes hoteleiras e franquias, fruto do dinheiro vindo dos Estados Unidos, da Europa e do Japão.
E há, ainda, uma esperada "Acapulco Diamante", que preencherá os poucos vazios, em matéria de conforto e serviços, deixados pela segunda.
Esses dois últimos pontos são onde o turista europeu encontra sua ilha da fantasia: a "latinidad" de programas de auditório somada ao Sol e às piscinas, onde canadenses e alemães passam as tardes, preferindo dar as costas à beleza de toda a baía.
Percorrer a "moderna" Acapulco é abandonar, por alguns momentos, a idéia que senso comum faz do México.
Há no lugar um conforto tipicamente norte-americano, algo tão evidente em suas avenidas e ruas cuidadosamente limpas, beirando a assepsia.
Um cuidado que denuncia o desejo -e a necessidade- que Acapulco tem em agradar a todos os seus visitantes.
O turismo é o que a mantém viva, e toda a mentalidade da cidade é voltada para manutenção de seu sustento.
Essa é sua única alternativa para tentar esquecer que faz parte do Estado de Guerreiro, o mais pobre de todo o país.
Em cada hotel, bar ou restaurante, a pobreza é cuidadosamente esquecida. Não se pretende negá-la, mas, em Acapulco, ela é vista como um fato que pertence à história de seus moradores, orgulhosos de sua cultura latina.
Um reino fomentado pela salsa e pelo merengue, os ritmos ouvidos nas rádios locais, que quase nunca tocam canções em outra língua que não o espanhol.
Rádios com os curiosos nomes de "A Poderosa" ou "Boníssima", que terminam por consolidar a imagem de Acapulco como um lugar que nunca ultrapassou o início dos anos 60, estupidamente congelada no tempo.
Um dos poucos lugares no mundo onde a brilhantina, os bigodes e os sapatos brancos saíram vitoriosos.

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