São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 1996
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Cidade velha quer ser limpa e internacional

MR
DO ENVIADO ESPECIAL A ACAPULCO

Logo após desembarcar em Acapulco, o turista é obrigado a decidir entre conhecer ou não o México. Enquanto no lado norte do país, nas cidades de Tijuana ou Veracruz, os mexicanos miram a fronteira dos EUA como única felicidade possível, em Acapulco a miragem é mais próxima.
Os antigos bairros de La Guinea ou La Quebrada -na parte velha da cidade- esperam um dia ser tão limpos e internacionais quanto os do lado "dourado".
Mas, ao menos por enquanto, sobrevivem de lembranças.
Próxima à catedral de Nuestra Señora de La Soledad, enquanto as crianças saem das várias escolas primárias que circundam o local, senhoras com vestidos floridos assam tortilhas (massa feita de milho) nas ruas para preparar os tacos, o prato típico do país, que vendem para as pessoas que passam pelo centro.
Enquanto trabalham, relembram os anos em que a atriz Lana Turner circulava pelos bares, o memorável casamento de Elizabeth Taylor e Mike Todd, a lua-de-mel de John e Jackie Kennedy ou as sempre frequentes visitas de Brigitte Bardot e Frank Sinatra, que alimentaram durante décadas as revistas de fofocas.
A história de Acapulco -e sua relação com o mundo- teve início bem antes de Hollywood, no século 15, quando se tornou parte do Império Asteca. Mas foi o presidente Miguel Alemán Valdés, que governou o país entre 1946 e 1952, que forneceu toda a infra-estrutura para que Acapulco encontrasse sua vocação turística.
Talvez preocupado em dar conforto para algumas visitas nobres e frequentes, entre elas as dos escritores Tennessee Williams, Malcolm Lowry ou Paul Bowles. Este último, ao menos durante um curto período, deixou Tânger, no Marrocos, para viver na cidade ao lado de sua mulher, Jane.
Depois das novas estradas de Alemán Valdés, outra lenda que surge na cidade é o suíço Ernest Henri Stauffer, responsável por injetar glamour na noite de Acapulco. Stauffer foi o criador das primeiras casas noturnas próximas à orla. Desse seu tempo há muito pouco na velha Acapulco. Mas são memórias que estranhamente não se tornaram ruínas.
É nesse lado da cidade que o visitante pode se afastar da Acapulco pré-produzida e dos shows folclóricos, para encontrar as pequenas escadarias entre as modestas casas de seus moradores.
Bairros mais antigos que a própria história do charme na cidade. Eles lembram ao turista mais ingênuo, ou desavisado, que ele está no México e não em uma Las Vegas sem cassinos.

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