São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 1996
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Lobby do Proálcool forma a maior bancada do Congresso

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O lobby do setor sucro-alcooleiro já tem a maior bancada informal do Congresso, com 200 deputados e 31 senadores. Une parlamentares da esquerda à direita e tem como bandeira principal ressuscitar o Proálcool.
A chamada "bancada da cana-de-açúcar" defende interesses de usineiros, plantadores e, dizem alguns de seus integrantes, até dos trabalhadores de canaviais.
A bancada foi citada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso durante entrevista concedida no México. Ao criticar os grupos de pressão, FHC especificou "os blocos agrários, os blocos dos produtores de açúcar".
As motivações desses grupos "não são valores, são lobbies", disse. E concluiu: "Isso é perigoso. Os parlamentares não podem deixar campear o lobby".
Um setor da "Frente Parlamentar Sucro-Alcooleira" defende interesses dos usineiros. Quer a renegociação das suas dívidas junto ao Banco do Brasil e a bancos privados (R$ 6 bilhões), com prazos alongados e juros mais baixos.
Ao lado dos usineiros José Múcio Monteiro (PFL-PE) e Maluly Netto (PFL-SP), estão os socialistas José Machado (PT-SP) e Aldo Rebelo (PC do B-SP) e o "verde" Fernando Gabeira (PV-RJ).
O PMDB é o partido mais forte, com 43 deputados e 11 senadores. Os Estados mais representados são São Paulo e Minas, com 36 membros cada um. O Paraná tem 21 integrantes, e Pernambuco, 13.
Bem articulada no Congresso, a bancada deverá colher na próxima semana os seus primeiros resultados. O governo deverá anunciar um pacote de medidas que praticamente recria o Proálcool.
A retomada desse programa, criado na década de 70, é uma bandeira de todos os integrantes da bancada sucro-alcooleira.
Eles argumentam que, além de salvar usineiros e plantadores de cana da falência, o programa pode gerar 200 mil empregos.
Uma comissão teve audiência com FHC há 15 dias. O presidente teria prometido que o Proálcool não acabaria no seu governo. O caso foi entregue ao Ministério da Indústria e do Comércio.
Entre as 25 medidas em estudo, estão o incentivo à compra de carros a álcool, o estímulo ao plantio e à comercialização da cana-de-açúcar e à produção industrial de álcool. A frente apóia as medidas.
O coordenador da bancada, o deputado Hélio Rosas (PMDB-SP), afirma que FHC prometeu manter o Proálcool. "Ele disse que precisava apenas ver qual o subsídio necessário e ver quem paga". A assessoria do presidente confirma a conversa.
Segundo Rosas, o setor precisa de ajuda porque gera 1,3 milhão de empregos diretos e 3 milhões indiretos. Em 20 anos, o governo teria investido R$ 10 bilhões no Proálcool e economizado R$ 28,7 bilhões.
O deputado Aldo Rebelo afirma que o PC do B aderiu à frente por dois motivos: "Nos interessa a questão do álcool como alternativa energética e o aspecto social. Os canaviais geram 200 mil empregos no meio rural só em São Paulo".
O deputado Fernando Gabeira afirma que aderiu ao grupo porque vê no álcool um combustível menos poluente.

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