São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 1996
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Governo esconde corte para evitar desgaste

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo não pretende anunciar oficialmente os cortes no Orçamento de 96 porque avalia que isso desgastaria o presidente Fernando Henrique Cardoso junto ao Congresso Nacional e afetaria a credibilidade do Plano Real.
A medida poderia sugerir desequilíbrio nas contas públicas.
Os cortes serão feitos com base no relatório trimestral de gastos, que deverá refletir a realidade de todos os órgãos do governo.
Nenhum programa oficial escapará de cortes, incluindo Comunidade Solidária, reforma agrária, recuperação e construção de estradas, saneamento, habitação e reaparelhamento das Forças Armadas.
O relatório trimestral vai prever um valor mínimo de recursos com que os ministros poderão contar para programar o trimestre.
Essa programação foi acertada pelo Palácio do Planalto com governadores e parlamentares. Avalia-se que isso reduzirá pressões sobre o Executivo para liberar recursos por causa das eleições.
A Folha apurou que FHC ficou alarmado quando foi informado que o déficit no Orçamento de 96 está estimado pela área econômica em R$ 20 bilhões.
O rombo é previsto no ano em que FHC decidiu adotar nova imagem pública: deixar de ser apenas o guardião do Real para se mostrar também um tocador de obras.
A resistência do Congresso à CMF (Contribuição sobre Movimentação Financeira), a rejeição à contribuição dos inativos, a redução da alíquota de 20% para 5% da contribuição dos autônomos e a queda na arrecadação de impostos em relação à estimativa inicial são apontados como principais responsáveis por esse déficit projetado.
Divergências
As disputas do PMDB com o PFL por mais verbas provocam divergências entre o presidente da Comissão Mista de Orçamento, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), e o relator-geral, deputado Iberê Ferreira (PFL-RN).
Apesar de ambos desejarem votar o Orçamento com rapidez, Calheiros e Ferreira não se entendem.
O senador queria iniciar a votação do relatório na terça-feira e defende a cota de R$ 1,5 milhão para cada parlamentar destinar verbas a seus municípios.
Iberê disse à Folha que o relatório não pode ser submetido à comissão na próxima terça porque o regimento impede o procedimento.
Ele lembrou que só 72 horas depois de o relatório ter sido distribuído aos integrantes da comissão ele poderá ser votado. Como o relatório não ficará pronto antes de terça, a votação fica adiada para a primeira semana de março.
Iberê tem se recusado até agora a alterar a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), a pedido de Calheiros, para destinar mais verbas à construção de estradas em detrimento da recuperação.
O relator reconhece que o governo teria vantagens com o atraso do Orçamento, mas disse que não recebeu nenhum pleito de ministros ou líderes do governo para adiar propositadamente a votação.

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