São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 1996
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A hora da escola

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Angélica, na propaganda do governo federal, abriu sorriso e conclamou, na Globo:
- Acorda Brasil! Está na hora da escola!
Estava na hora, mas quem não acordou foram os governos tucanos, o federal, o paulista, até o paraense.
Em Belém, a Bandeirantes gravou imagens de desespero dos estudantes -frustrados, forçando a entrada na escola, pressionados contra o portão, gritando "não empurra".
- A confusão começou quando centenas de alunos que estavam na fila desde terça para conseguir matrícula souberam que não havia mais vagas. Os estudantes ocuparam as ruas, pararam o trânsito e tentaram invadir a escola.
Quando recebidos, o diretor, também perdido, disse, "eu não posso inventar vaga". Uma menina chorou, histérica.
Em São Paulo, em Diadema, segundo a Cultura, "cerca de mil crianças da rede estadual não voltaram às aulas, por falta de vagas". Uma mãe, muito pobre, foi perguntada sobre se tinha conseguido lugar:
- Não consegui. Eu não consegui perto da minha casa e não vou matricular minha filha, para pegar duas conduções. Não tenho como pagar.
A secretária de Educação, ouvindo a entrevista, culpou os petistas de Diadema, que não abriram vagas municipais. Também culpou os pais, que, "ou não procuraram as escolas anteriormente, ou procuraram, mas encontraram dificuldades e desistiram".
Esses pais... Para a Globo, depois, a secretaria afirmaria que "considera os problemas verificados normais".
Normais, na justificativa, porque era a estréia da escola com a divisão entre os antigos primário e ginásio.
Mas não tão normais, diante da confirmação das "demissões dos professores".
Para a Cultura, disseram que eles perderam emprego por não serem "habilitados". Depois, para a Globo, porque estavam em "regime temporário". E mais, "a secretaria não tem um cálculo de quantos deixaram de ser recontratados".
Um diretor de escola de São Paulo, perdido como o colega paraense, fez o cálculo:
- Foram cinco professores de português, três de história, de matemática...
Desemprego é o bordão do ano, de fato, para os tucanos.

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