São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 1996
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Filme reabre polêmica sobre sequestro

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

As filmagens de "O que É Isso Companheiro", de Bruno Barreto, sobre o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick em setembro de 1969, nem começaram e já trouxeram à tona divergências entre participantes do acontecimento histórico.
As divergências têm como ponto de partida o livro do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ), colunista da Folha, usado como base para o roteiro feito por Leopoldo Serran.
"Não gosto do livro porque não corresponde à realidade. Ele é uma mistura de ficção e realidade na qual a realidade sai perdendo. E olha que a ficção é muito fraca", diz o jornalista Franklin Martins, 48.
Ele foi um dos participantes do sequestro e hoje é diretor da sucursal de "O Globo" em Brasília.
"Além disso, há a agravante de o livro ter sido escrito na primeira pessoa", diz o jornalista Cid Benjamim, outro participante do sequestro.
"Nesta polêmica, por incrível que pareça, eu não vou entrar. Todas as coisas contadas no livro aconteceram comigo", afirma Fernando Gabeira.
"O livro em si não é um retrato muito fiel, é um livro reflexivo que serviu como ponto de partida", diz Bruno Barreto, 40, diretor do filme.
A Folha apurou que os participantes do sequestro têm receio de que o filme repita algumas incorreções históricas do livro.
Para tentar diminuir isso, o roteirista Leopoldo Serran e o diretor Bruno Barreto entrevistaram alguns dos sequestradores e a filha do embaixador, Valery Elbrick.
Em uma das páginas do livro, o embaixador colocou vários pontos de exclamação ao lado do trecho em que o autor afirma que quando Elbrick foi retirado de seu carro uma arma foi colocada "de leve" em sua cabeça.
Segundo Valery, a arma teria batido em sua cabeça, causando inclusive um ferimento.
Outra anotação do embaixador: quando Gabeira afirma que os sequestradores lhe deram um livro de poemas de Ho Chi Min para ler, ele rabiscou ao lado a palavra "wrong" (errado, em inglês). Elbrick contou para sua filha que recebera o "Livro Vermelho", de Mao Tse Tung.
"Essa discussão toda é um atraso de vida. Não vou me meter nisso nem vou discutir o meu roteiro", diz Leopoldo Serran, 53.
O roteirista diz que o filme, que começa a ser feito no dia 8 de março, não terá apenas o ponto de vista dos sequestradores.
"Há a visão da família e até da repressão. O que não dá é para ser justo com todos os lados da questão", afirma.

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