São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 1996
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Pesquisa reabre polêmica sobre cirurgia

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pesquisa publicada esta semana nos Estados Unidos reabre polêmica sobre quando deve ser realizada a cirurgia para a retirada de câncer da próstata. Esse tipo de câncer é o segundo que mais mata homens nos Estados Unidos.
O trabalho, dirigido pelo pesquisador Grace Lu-Yao, do US Health Care Financing Administration, acompanhou 3.173 pacientes submetidos à prostatectomia (retirada da glândula).
Cerca de 34,9% desses pacientes operados tiveram de continuar a fazer tratamento por pelo menos cinco anos após a cirurgia, escreveu Lu-Yao no "Journal of the National Cancer Institute". Entre os tratamentos estão a retirada de testículos, radioterapia e quimioterapia.
Para o chefe do serviço de urologia da Beneficência Portuguesa, Miguel Srougi, o que deve ser discutido não é a eficácia da cirurgia, mas o momento de empregá-la no tratamento. "Muita gente está curada com a cirurgia. Isso é um fato. O próprio estudo norte-americano mostra que dois terços dos pacientes ficaram curados", disse Srougi, que realiza semanalmente quatro cirurgias.
Sadí acredita que a cirurgia deve ser indicada em cerca de 20% dos casos de câncer da próstata. "A cirurgia é muito agressiva. Deve ser sugerida para os que têm até 55 anos", disse.
Na opinião de Sadí, "tratamentos conservadores", como radioterapia ou aplicação de hormônios, são menos agressivos e apresentam menos efeitos colaterais.
Para Luciano Nesrallah, urologista do Sírio-Libanês e da Beneficência Portuguesa, existem alguns aspectos a se analisar na hora de decidir pelo tratamento.
Segundo Nesrallah, "os efeitos colaterais são maiores na cirurgia do que nos tratamentos conservadores".
"Cerca de 50% dos homens ficam impotentes depois da cirurgia, mas o índice de cura do câncer é de 80%. Já na radioterapia, a impotência chega a 30%, mas a cura é de apenas 60%. Nós dizemos isso aos pacientes e eles decidem o que fazer", afirma Nesrallah.
Wilson Bachega, urologista do Hospital A. C. Camargo, diz que até os 70 anos a cirurgia pode ser recomendada. "Depois disso, não é vantagem. A possibilidade de o paciente morrer de outras doenças que não o câncer é muito grande."
Renê Gansl, oncologista dos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, afirma que os médicos só devem fazer a cirurgia se acreditarem que o paciente tem uma expectativa de vida de pelo menos 15 anos. "Isso é muito delicado e questionável, mas, quando existe essa expectativa, o paciente deve ser operado", diz.

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