São Paulo, sábado, 24 de fevereiro de 1996 |
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Rombo do Nacional pode chegar a R$ 5 bi
CARI RODRIGUES; GUSTAVO PATÚ
Com base nesta última estimativa do rombo do Nacional, cálculos no BC apontam que a injeção de dinheiro subsidiado no banco poderá ficar em pelo menos R$ 7,6 bilhões ou até mesmo chegar -na hipótese mais exagerada- a R$ 12,5 bilhões. Chega-se a este último pelo seguinte raciocínio: R$ 5 bilhões seriam injetados para cobrir um suposto rombo nesse valor. Os R$ 7,5 bilhões restantes seriam necessários para comprar, com 50% de deságio, os títulos "podres" que o BC aceita em pagamento na operação. Pelas regras do Proer -programa de incentivos às fusões bancárias-, o BC "empresta" dinheiro a um banco e aceita receber em troca títulos sem valor de mercado pelo valor integral, na proporção de 120% do valor emprestado. A partir desse mecanismo, são possíveis diversas simulações. Se o rombo do Nacional não passar de R$ 4 bilhões e for possível comprar os papéis "podres" com 60% de deságio, o valor a ser injetado fica nos R$ 7,6 bilhões. Até agora, o BC já injetou R$ 5,8 bilhões no Nacional -foi confirmado ontem oficialmente o repasse de R$ 240 milhões em janeiro. Para pagar o empréstimo, o banco precisa de R$ 6,96 bilhões em papéis "podres". Origens do rombo O BC já detectou que a principal causa do rombo no Nacional são as mais de 650 operações de crédito duvidosos -de difícil recuperação- que começaram a ser liberadas desde 1987. Essas operações somam R$ 5,3 bilhões, calculados na data da intervenção do Nacional, em 18 de novembro do ano passado. O rombo, segundo apurou a Folha, começou com esses empréstimos que não entraram na negociação com o Unibanco -que comprou a parte "boa" do Nacional. Os empréstimos são, em média, de R$ 8,15 milhões por operação e estão pulverizados no valor total do balanço. Isso está dificultando o trabalho de investigação do BC para identificar esses devedores. O BC investiga a possibilidade de o Nacional ter renovado os créditos duvidosos, a cada ano, e contabilizado esses valores como receita normal. Com essa operação contábil, é possível gerar lucro artificial nos balanços, que pode ter sido dividido entre os acionistas. O BC não sabe quanto dessas operações sem retorno permitiram fechar o balanço com saldo positivo. As regras do sistema financeiro determinam que o Nacional deveria ter discriminado no balanço essas operações de crédito duvidoso e separado recursos no mesmo valor. Comprovadas as suspeitas, devem ser identificados os responsáveis. Ou seja, quem ficou com o dinheiro que não entrou no caixa do Nacional. A MP (medida provisória) que deu mais poderes ao BC possibilita que não só os administradores sejam punidos, mas também os ex-controladores dos bancos sob intervenção. Ou seja, os proprietários. Confirmadas as irregularidades, o BC poderá utilizar essa MP para responsabilizar os ex-controladores do Nacional. A Folha apurou que nem toda a diretoria do Nacional sabia das operações rejeitadas pelo Unibanco. Essas pessoas são consideradas a "caixa preta" para desvendar porque o Nacional transformou em receita créditos de difícil recuperação. Texto Anterior: EUA registram menor taxa de crescimento desde 1991 Próximo Texto: BC vai rastrear empréstimos Índice |
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