São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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Montadoras vêem saída na 'lei de Gérson'

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Os carros a álcool cairão no ostracismo se o governo não aplicar a chamada "lei de Gérson", oferecendo vantagens de preços e garantia de abastecimento de combustível aos consumidores. A avaliação é de executivos da indústria automobilística.
As vendas de carros a álcool, que chegaram a ter uma participação de 96% no mercado, caíram no mês passado para 1%, o pior nível desde o lançamento do Proálcool em 1979.
A fatia dos carros a álcool no total das vendas ficou em torno da média de 28% de 1980 a 83.
Alcançou o pico de 96% entre 1984 e 1989, despencou para 13% em 1990, devido à falta de combustível. Cresceu para 25% entre 1991 e 1993 e tornou a declinar para 12% em 1994 e 3% em 1995.
Para as montadoras, a retomada da produção de carros a álcool esbarra em dois obstáculos: 1) a falta de credibilidade na oferta ininterrupta do combustível; 2) a redução da diferença dos preços do álcool e da gasolina nos postos.
O setor considera que, para incentivar a compra de carros a álcool, o governo vai ter de desatar dois nós górdios: a pouca distância entre os preços do álcool e da gasolina e arranjar meios de dar incentivos fiscais à produção dos veículos.
A falta de incentivos faz a GM hesitar no lançamento de um modelo do Corsa com motor a álcool de um litro. A montadora tem o "estado da arte" da tecnologia, mas os problemas estruturais do mercado desaconselham o lançamento.
As montadoras entendem que o álcool tem de ser 35% mais barato do que a gasolina nas bombas para atrair os motoristas. Essa diferença prevaleceu no início do Proálcool, mas foi reduzida para apenas cerca de 20% atualmente.
Essa diferença é necessária porque os motores movidos a gasolina tem um poder energético 35% maior e os motores a álcool consomem mais de 20% a 25% mais combustível.
Consumidor avalia
Miguel Jorge, vice-presidente de recursos humanos, assuntos legais e corporativos da Volkswagen, diz que o consumidor vai comprar o carro a álcool se achar que tem vantagem ou, pelo menos, que não tem desvantagem.
Segundo ele, as montadoras e seus fornecedores possuem a tecnologia necessária para ressuscitar o carro a álcool. A ressureição, porém, está nas mãos do governo. "Para nós, tanto faz produzir carros a álcool ou a gasolina."
Para ele, o governo precisa definir o papel do álcool na matriz energética do país e dizer ao consumidor que não haverá escassez do combustível.
José Edson Parro, gerente de relações governamentais da General Motors do Brasil, diz que não há mercado para o carro a álcool porque o programa perdeu a credibilidade, o preço do álcool ficou quase igual ao da gasolina, a indústria perdeu as vantagens fiscais na produção, a diferença do IPVA entre os tipos de carros foi reduzido pelos governos estaduais e só há um carro popular a álcool, o "Fusca", da Volkswagen.
"O governo tem de fazer uma campanha institucional e dar qualquer tipo de vantagem ao consumidor, que hoje, na era da estabilização, está muito mais consciente dos preços", diz.
A Fiat, que produziu o primeiro carro a álcool do país -o Fiat 147, em 1979-, diz que o carro a álcool é uma questão de mercado.
Marco Piquini, porta-voz da Fiat Automóveis, afirma que a montadora não teria problemas de retomar a produção de carros a álcool se a demanda crescesse. A Fiat admite produzir uma versão a álcool do Palio, seu carro mundial.

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