São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo chega a consenso sobre déficit

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A discussão sobre qual seria a causa principal do déficit público -se as despesas com juros, com pessoal ou com a Previdência- não agita mais os meios governamentais em Brasília.
É cada vez mais consensual a opinião de que todas as despesas fazem parte do problema principal. Isso porque a redução de cada uma delas, por mais forte que seja, pode ser compensada por pequenos aumentos das outras.
No ano passado, por exemplo, o governo federal (só o Tesouro, excluídas estatais, Banco Central, governos estaduais e prefeituras) gastou R$ 7,6 bilhões com juros da dívida interna. Neste ano, pretende reduzir essa despesa para a metade, ao menos.
Mas toda essa economia pode ser anulada se a folha de salários do funcionalismo e dos aposentados tiver um aumento de apenas 10%. Os gastos com a folha no ano passado foram de R$ 37,3 bilhões. Os 10% disso, R$ 3,7 bilhões, empatam com a economia de R$ 3,8 bilhões esperada na conta de juros.
É por isso que o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Gustavo Franco, repete que a redução da taxa de juros "não é tão relevante para a contenção do déficit público".
Mas também é certo que não adiantaria nada impor um arrocho nos salários do funcionalismo, se as taxas de juros não caírem.
Em resumo, todas as despesas têm que ser atacadas com a mesma prioridade. A taxa de juros já vem sendo reduzida, mas essa é a única variável sobre a qual o governo tem controle quase exclusivo.
É o Banco Central que calibra a taxa de juros básica, aquela que incide sobre os títulos vendidos pelo governo.
Para este ano, a Receita Federal espera um crescimento equivalente à taxa de inflação prevista, de 15%, e mais 4% de ganho real. Mas como a economia vai andar em marcha lenta, muitos observadores acham que seria mais prudente contar apenas com a reposição da inflação. É que quanto menor a atividade econômica, menor o recolhimento de impostos.
Isso significa que nenhuma despesa pode crescer mais de 15% neste ano, comenta o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas.
Ou, todas as despesas precisam crescer abaixo desses 15%, para que haja superávit primário.
A outra hipótese, uma redução real das despesas, é impossível. É difícil imaginar uma redução substancial nos gastos da administração federal, que já vem funcionando com o mínimo necessário.
Os gastos com salários, de outro lado, sobem mesmo que não seja concedido qualquer reajuste geral. Isso porque todo o ano, parcela exptessiva de todos os funcionários aumenta seus vencimentos com a incorporação de vantagens.
É o chamado crescimento vegetativo da folha salarial. Portanto, a única contenção possível é justamente no reajuste geral. Ou seja, parte substancial da conta vai sobrar para o funcionalismo.

Texto Anterior: Governo chega a consenso sobre déficit
Próximo Texto: Reajuste deve chegar aos 10%
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.