São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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Mulher madura encara sogra e preconceito

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

A matemática é implacável com mulheres que namoram ou se casaram com homens muito mais novos do que elas. Fazendo as contas, essas mulheres muitas vezes têm quase a mesma idade da sogra e eventualmente filhos de um primeiro casamento que são contemporâneos do atual companheiro.
"Sou três anos mais nova do que a mãe do meu marido e ele sete anos mais velho do que minha primeira filha", diz a líder do PT na Câmara, Sandra Starling, 52.
Sandra diz que no início as coisas foram difíceis com a sogra, mas agora as duas mantêm um relacionamento de irmãs (leia depoimento ao lado).
"Levei um susto quando meu filho me apresentou a ela", diz a professora de francês mineira Rosa Maria Machado Gelho, 55, mãe do marido de Sandra, o advogado Thales Machado Gelho, 36.
"A primeira coisa que fiz foi procurar saber se era aquilo mesmo que ele queria", conta. "Perguntei se ele se dava conta do preconceito que ia enfrentar. Ele disse que sim e não interferi."
Não interferiu, mas também não foi ao casamento. "Não estava muito bem na época e eles disseram que não pretendiam adiar o casamento por isso", diz.
Para completar, Rosa Maria era parente próxima de Tancredo Neves, que na ocasião disputava com Sandra o governo de Minas Gerais. "Era um momento muito complicado", diz.
O momento de conhecer a nora quase da mesma idade nunca é simples para a sogra. "O Geraldinho era o meu maior companheiro quando começou a namorar a Elza", conta a assessora política Harriet Peixoto, 54, mãe do publicitário Geraldo Peixoto, 34, e sogra da produtora Elza Luchesi, 46.
"Eu tinha me separado do meu marido e passei a depender emocionalmente do meu filho mais velho", diz Harriet.
"Não vou dizer que não senti ciúmes quando ele disse que estava namorando uma mulher quase da minha idade", diz.
Com relação às outras noras (Hariet tem mais três filhos), ela diz que o relacionamento muda totalmente. "A Elza é a única que me responde de igual para igual. As outras ficam quietas e evitam entrar em atrito."
"Sou muito possessiva mesmo", diz Elza. "Domino a relação e não gosto de intervenções."
Elza e Geraldo estão juntos há doze anos, desde que ela tinha 34 e ele, 22. "Percebi que a única maneira de o casamento dar certo era a gente ter uma relação independente de família", diz Elza.
Harriet diz que não perdeu o filho companheiro, mas que as conversas agora são pelo telefone. "Só vou na casa deles quando convocada ou em datas festivas (aniversário, natal etc.)."
A artista-plástica Diva Maria Oliveira, 41, não ia à casa da mãe de seu ex-namorado nem nessas ocasiões. "Ela se tornou minha maior inimiga", lembra.
Diva conheceu o ex-namorado quando tinha 22 anos, e ele 11."Éramos vizinhos e eu me tornei amiga da mãe dele", conta. O namoro começou muitos anos depois, quando ele tinha 22 e ela 33.
"Ele disse que sempre me admirou, mas me via como alguém distante. Fiquei surpresa, mas não pude esconder um certo orgulho. Namoramos três anos", diz.
A vendedora Míriam Vitorino, 41, namorada do "autônomo" Cid Ferreira da Silva, de 23, não teve problemas com a sogra, que mora no Paraná e não tem contato com o casal, mas em compensação enfrenta repressão das filhas.
"Tenho duas meninas adolescentes, do primeiro casamento, que não se conformam. Toda vez que podem, dão um jeito de dizer que não vai dar certo", diz.
Míriam conta que a coisa se complica ainda mais porque o pai das meninas, ao contrário dela, tem uma namorada da faixa etária dele. "As meninas vivem fazendo comparações."

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