São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996 |
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Estado e sociedade civil são criticados
DA REPORTAGEM LOCAL Pessoas ligadas à defesa dos direitos humanos e à política de segurança pública vêem na banalização da violência e na falência das instituições as principais explicações para o crescimento dos índices de criminalidade, não só em São Paulo, mas em todo o país.Fermino Fechio, 52, presidente do Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo, diz que o país passa por uma "uma degeneração generalizada dos órgãos que deveriam cuidar da segurança da população". Segundo ele, "a polícia está mal preparada, o Ministério Público está ausente e há Estados em que o Poder Judiciário tem 50% das vagas de juízes não preenchidas". Essa situação, na opinião de Fechio, é agravada pelas condições econômicas do país, em especial o desemprego. Ele diz que é preciso rever várias instituições para que a criminalidade diminua. "A polícia precisa melhorar. Atualmente ela é uma instituição falida, mal equipada, o que faz com que o Estado perca a guerra contra os bandidos", avalia. Para Fechio, o Ministério Público tem que se sentir parte do processo e "fiscalizar a polícia". "A Justiça, por sua vez, precisa ser mais rápida, para evitar a sensação de impunidade, que é uma das grandes causas da violência". Ele acredita ainda que "a sociedade está contaminada pela violência". "A sociedade civil precisa ser menos violenta. A reação à violência atualmente é muito fraca. Tem gente que acha que a morte de 111 presos no Carandiru é uma coisa boa", afirma. O advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, 50, ex-secretário da Segurança Pública, vê um "aviltamento da vida humana". "Há um aumento da violência não só por parte do ladrão, mas de toda a sociedade, inclusive da classe média e da elite", diz. Segundo ele, a sociedade estimula uma atitude egoísta e de indiferença às carências sociais. "Com isso, a sociedade perdeu suas referências éticas. Despreza os valores do ser em troca dos valores do ter. Na competição, a vida humana deixa de ter valor." A solução, na opinião do advogado, passa por um "mea culpa da elite, da classe média e da mídia". Segundo ele, a divulgação, pelos grandes meios de comunicação, da violência e de condutas e comportamentos que levam à violência, piora o problema. "As camadas menos favorecidas são as mais prejudicadas. Se a elite pode cometer crimes, e a TV mostra, por que os mais pobres também não podem?" Mariz de Oliveira diz que a sociedade civil deveria repensar seus valores. "Não se pode atribuir tudo ao Estado. As pessoas precisam reabraçar alguns valores perdidos, como a solidariedade." Texto Anterior: Sudeste debate ação conjunta anticrime Próximo Texto: Livro ensina a adestrar o homem como um cão Índice |
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