São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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Mercados e investimentos

LUIZ GONZAGA BELLUZZO

Na visão de seus propagandistas e defensores, a desregulamentação e a liberalização dos mercados financeiros prometiam a criação de novas formas de mobilização da poupança e a "democratização" do acesso das empresas, grandes e pequenas, às novas fontes de financiamento.
As vantagens dos "novos mercados globalizados" sobre a velha finança comandada pelos bancos e restrita aos espaços nacionais pareciam ser:
1) instrumentos mais eficientes de atração da poupança (títulos de maior negociabilidade e liquidez);
2) redução dos custos de capital;
e 3) diversificação dos riscos.
O economista Michel Aglietta, em estudo recente (Macroeconomie Financière-La Decouverte, 1995), faz uma avaliação rigorosa do desempenho dos novos mercados nos países desenvolvidos, nos últimos 20 anos.
As conclusões são decepcionantes. A liberalização financeira permitiu, de fato, uma rápida acumulação de riqueza por parte das famílias de alta renda. A razão principal deste "enriquecimento" não foi, porém, o investimento produtivo.
Nos anos 80 e no início dos 90 declinaram tanto o investimento produtivo quanto as taxas de crescimento das economias observadas.
A acumulação patrimonial rápida não está relacionada, portanto, com a geração de riqueza nova (mais bens e serviços). Decorre, sim, da inflação de preços dos ativos, tanto imóveis quanto financeiros (ações, títulos dos governos).
O funcionamento dos mercados financeiros tem suscitado, na verdade, surtos espetaculares de elevação do preço real dos ativos, sem a correspondente expectativa de aumento do fluxo de rendimentos futuros.
A maior parte dos rendimentos é fruto dos ganhos de capital. Isto em boa medida é resultado da "sabedoria" acumulada pelos mercados que apostam numa intervenção salvadora dos governos diante de uma ameaça de deflação de preços.
A experiência recente vem demonstrando que os mercados estão certos. Aliás, em seu estudo o prof. Aglietta revela que o desenvolvimento desses mercados especulativos contribuiu intensamente para o enriquecimento privado e para a valorização dos ativos já existentes, mas foi pernicioso para o investimento produtivo e para o crescimento das economias.

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