São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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Certame sem fricotes

SÍLVIO LANCELLOTTI

Pode se encerrar hoje, com uma antecipação de três meses, o Campeonato Italiano de futebol, edição 1995/96.
Basta que o líder Milan, 49 pontos ganhos, em viagem sobrepuje a Juventus de Turim, 38. Basta, também, que a vice-líder Fiorentina, 42, não passe pelo Napoli, 29. E que o Parma, terceiro colocado, 41, tropece na Udinese, 30, dentro do belíssimo estádio Friuli de Údine.
Tudo isso acontecendo, o Milan estabelecerá uma vantagem de dez pontos na tabela de qualificação, uma folga praticamente irrecuperável, mesmo que faltem 11 jornadas para o certame se esgotar.
Um absurdo? Nem tanto. Embora campeã da temporada anterior, a Juventus atravessa um momento de enorme irregularidade, mais interessada na Copa da Europa.
Fiorentina e Napoli costumam realizar cotejos francos e abertos, às vezes com muitos gols. Não será milagre nenhum o sucesso do time da terra da pizza mesmo na capital da Toscana.
Quanto à Udinese, realiza o seu melhor torneio desde os idos de Zico na sua cidade. Ocupa a oitava posição e sonha em obter uma das quatro vagas na Copa da Uefa.
Conjunção de fatores à parte, a proximidade de um desfecho prematuro no Campeonato Italiano serve como ilustração para um raciocínio em favor dos certames de turno e returno, pontos corridos, sem fricotes e sem "playoffs", certames de regulamentos simples, diretos e transparentes.
Mesmo que os astros protejam o Milan hoje, o Campeonato Italiano não perderá em quase nada o seu impressionante magnetismo.
Por lá não se decide apenas o clube ganhador do celebrado "scudetto". Existe uma batalha ferrenha pelas vagas da Copa da Uefa -ao menos dez equipes se mantêm em tal disputa. Existe, igualmente, uma batalha virulenta pela sobrevivência na Série A -na Itália caem quatro à segunda divisão, sem recursos ao tapetão.
Participar da Copa da Uefa significa arrecadar um mínimo de US$ 3 milhões e um máximo viável de US$ 15 milhões a US$ 20 milhões. Significa preservar um tempo excelente de exposição nas redes de televisão. Significa valorizar elencos e patrocinadores.
Aposto que, mesmo com o Milan disparadíssimo na frente, a média de público do Italiano não vai diminuir da casa em torno dos 30 mil por cotejo. Nem vai diminuir a sua média de rendas, nos arredores dos US$ 600 mil. Tudo dá certo quando se organiza bem.
Notas
Fabio Capello, o treinador do Milan, viveu um final de semana de gigantescas preocupações. Não poderá contar com o craque montenegrino Savicevic e com o seu lateral artilheiro Panucci, suspensos. O substituto natural de Panucci, o zagueiro Tassotti, volta de contusão. E o volante Eranio, possível alternativa, abandonou manquitolando o treinamento da quinta-feira.
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Também é problema o armador Albertini, uma virose que o jogou na cama com uma brutal infecção gastrointestinal. Em três dias, Albertini perdeu quase 5 kg de peso. Pior, a neve que desabou sobre Milão impediu Roberto Baggio, com dores nas costas, de recuperar corretamente o seu preparo físico. Ao menos Capello resgatou da enfermaria o atacante liberiano Weah.
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Apenas com uma dúvida, Peruzzi ou Rampulla na sua meta, a Juventus terá hoje um torcedor especialíssimo, o cientista romano Umberto Guidoni, 41, no espaço desde a noite de quinta-feira na 19ª missão da nave Columbia. Guidoni subiu aos céus munido de uma bandeira da Juve, autografada por todo o elenco da "Signora". Jura que escutará o cotejo através do rádio, via satélite.

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