São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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Vietnã tentar banir importados dos país

Regime comunista quer reforçar a sua autoridade

ALAIN LEBAS
EM BANCOC

Libération
Desde 1º de fevereiro, as cidades vietnamitas estão irreconhecíveis. Em Hanói, os logotipos Fuji ou Kodak das lojas de fotografia que cercam o lago Hoan Kiem foram recobertos por sacos plásticos.
A mesma coisa foi feita com os logotipos Toshiba ou Samsung das casas de eletrodomésticos e discos da rua Hai Ba Trung. E os restaurantes e hotéis com nomes estrangeiros, como Sunrise, Lotus ou Boss, foram obrigados a colar papel jornal sobre suas placas luminosas. Os postos de gasolina Esso fizeram a mesma coisa.
Em menos de uma semana, placas e cartazes divulgando produtos importados foram retirados da cidade inteira. CDs de Madonna ou dos Rolling Stones, fitas de filmes de Hollywood e revistas importadas ilegalmente constituem "germes de infecção cultural" no Vietnã comunista.
Trata-se de uma operação de traços xenófobos, que chegou ao paroxismo com a proibição, em todo o país, de placas ou cartazes com nomes estrangeiros.
A exclusão dos símbolos do capitalismo está relacionada ao próximo congresso do Partido Comunista Vietnamita (PCV), previsto para junho deste ano e que discutirá os resultados das reformas econômicas iniciadas em 1986.
O congresso também deverá marcar uma mudança na direção do PC. Eleito secretário-geral em 1991, Do Muoi estaria de partida. Seu lugar deverá ser tomado pelo primeiro-ministro Vo Van Kiet, chefe dos "renovadores". Já o general Le Duc Anh, considerado o homem forte da ala dos "conservadores", deverá ser reconduzido ao cargo.
A maioria da população, que tem menos de 25 anos, demonstra indiferença ou desprezo por uma ideologia e um regime vistos como arcaicos. Paralelamente, o impacto das reformas (desemprego, empobrecimento, delinquência juvenil) hoje atinge uma larga faixa da sociedade, enquanto a corrupção corrói as instituições do Estado.
"O imperialismo cultural inunda nosso país de produtos decadentes e antinacionais e de produtos culturais reacionários. Essa guerra sub-reptícia é tão perigosa quanto uma guerra de verdade", diz o jornal "New Hanoi".
Os próprios comerciantes têm de retirar suas placas, sob pena de vê-las destruídas e pagarem uma multa entre 50 mil e 1 milhão de dongs (de US$ 5 a US$ 100), dependendo do tamanho do objetivo incriminado. Brigadas especiais de polícia, equipadas com réguas e raspadores, esquadrinham as ruas em busca de comerciantes recalcitrantes. Apenas as multinacionais estão autorizadas a pendurar suas placas, mas apenas em seus escritórios de representação.
Desde o início da campanha, as autoridades já apreenderam 14.467 fitas de vídeo, 3,4 toneladas de livros e revistas não-autorizados e 362 cartazes pornográficos.

Tradução de Clara Allain

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