São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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País não é caloteiro, diz embaixador brasileiro

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

O chefe da missão brasileira junto à ONU, o embaixador Celso Amorim, disse ser injusta a acusação de que o Brasil é caloteiro, porque o país tem se esforçado para pagar suas contribuições em dia.
"Entendo que o secretário-geral esteja preocupado com a dívida, porque a situação é grave. Mas é injusto pressionar o Brasil."
Segundo Amorim, no ano passado, o país foi elogiado na Assembléia Geral da ONU porque havia quitado dívidas passadas.
"Não pagamos as contribuições de 1996, porque o Orçamento não foi aprovado pelo Congresso."
Amorim diz que, apesar de o Brasil dever US$ 41,8 milhões, a dívida é "majoritariamente técnica". "No ano passado, só ficamos devendo US$ 5,6 milhões. Como a ONU pede que as contribuições sejam pagas até o 31 de janeiro de cada ano, nossa dívida pulou para US$ 41,8 milhões."
Amorim afirma que o Brasil é "bom pagador". "Queremos quitar integralmente o que devemos."
O embaixador concorda que a crise financeira pela qual a ONU passa é grave e "sem precedentes". Mas ressalta que o Brasil não é o responsável pelo aperto.
"Em vez de cobrar dos países que devem pouco, o secretário deveria apelar para que os grandes devedores, como EUA e Rússia, paguem suas contribuições atrasadas. Se os EUA pagarem, metade dos problemas da ONU estarão resolvidos", disse Amorim à Folha.
Amorim irá acompanhar a visita do secretário-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, ao Brasil, entre 27 de fevereiro e 1º de março.
Segundo ele, Ghali deverá se encontrar com o governador de São Paulo, Mário Covas, com o prefeito Paulo Maluf e o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Reeleição
Boutros Boutros-Ghali, vem sendo acusado de não querer se indispor com os EUA com medo de prejudicar sua candidatura à reeleição no ano que vem.
Ghali ainda não lançou a candidatura oficialmente, mas admite que estar pensando no assunto.
EUA e Rússia são vitais para reeleição de Ghali. Por serem membros permanentes do Conselho de Segurança, podem vetar a indicação do atual secretário.
Como os EUA já deram sinais de que não têm planos de quitar sua dívida, Boutros-Ghali só tem uma opção para resolver a crise financeira: fazer campanha para que todos os outros países-membros paguem o que devem.
(DF)

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