São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Voto deve encerrar era socialista na Espanha

CYNARA MENEZES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE MADRI

A Espanha deve pôr fim no próximo domingo a mais uma etapa de sua história: a era do socialismo e de Felipe González, o carismático primeiro-ministro no poder há 13 anos e que aparece como virtual derrotado nestas eleições.
Pesquisa publicada hoje no jornal "El País" e revelada com exclusividade para a Folha dá como certa a vitória de seu principal opositor, José Maria Aznar, do Partido Popular, de centro-direita, por nove pontos percentuais de diferença (42% a 33%).
Depois da era Franco (o ditador que governou o país com mão de ferro por 36 anos), da transição democrática que se seguiu à sua morte, e da era González, a Espanha entra na era "mauricinho" -"pijo" para os espanhóis, que chamam o partido de Aznar (PP) de "Pepijo".
O rótulo é assumido e até foi incorporado pelos "ideólogos" do PP, estimulados por uma campanha publicitária de automóveis que deu novo nome ao grupo e faz parte do jargão local: "jasp", ou "jovens ainda que superpreparados".
A gíria é uma alusão à idéia americana dos "wasp" (branco, anglo-saxão e protestante) e ao surgimento da geração mais bem formada intelectualmente no país, segundo estudiosos, e cujos votos são do PP, segundo pesquisas.
"Não há dúvida de que o motivo fundamental da vitória de Aznar se deve a uma mudança de geração. Eles não viveram a era Franco e não temem a direita", diz o professor de Ciência Política da Universidade Autônoma de Madri, Fernando Vallespín.
Para Vallespín, é "impossível" para González reverter a situação até o próximo domingo. "Existe um fenômeno tipicamente espanhol conhecido como voto oculto, quando o cidadão mente para o pesquisador, dizendo que vai votar em outro, mais isso não vai superar os 2%", afirma.
Personagem da política espanhola, Jorge Vestringe, que chegou a ser secretário-geral da AP (Ação Popular, antigo nome do PP), se confessou equivocado e foi para a esquerda, não está tão seguro da derrota de González.
"Os espanhóis querem dar um susto em Felipe, mostrar que estão chateados com ele, com os escândalos de corrupção em seu governo, mas na última hora votam nele, como da última vez. A diferença é que agora há mais gente chateada", diz Vestringe.
Hoje um simples militante de bairro do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol, de González), Vestringe teve ninguém menos que Aznar como adjunto em sua fase direitista.
"Não é um sujeito mau, mas não é brilhante. Em relação a Felipe, é como comparar o penhasco de Gibraltar com o Himalaia.".
Se a Aznar falta carisma, o que ele mesmo reconhece -sua frase mais conhecida é "Váyase, señor González"-, e ao atual premiê sobra, também lhe sobram problemas para dificultar sua reeleição.
Os escândalos de corrupção obrigaram o governo socialista a convocar novas eleições apenas três anos depois da última, que González venceu apertado, e o próprio tempo em que está no governo conta contra ele.
E há ainda o desemprego, que segue sendo o maior da Europa, situado em mais de 20%.
O pior para González é que entre estes "jovens superpreparados" o índice é ainda maior: 40% entre 20 e 24 anos, segundo os dados do próprio governo.

Texto Anterior: Saravejo é aberta a caminhões sérvios; Fracassa acordo de coalizão na Turquia; Carro-bomba deixa um morto em Argel
Próximo Texto: Banderas faz campanha para González
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.