São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 1996
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santo de casa faz milagre

CLAUDIA ATAS

A internação domiciliar deixa de ser privilégio e se firma como tendência
Tratar o doente em casa ou interná-lo em hospital já é uma questão de escolha. Donos de hospitais, médicos e familiares de pacientes estão recomendando cada vez mais uma nova modalidade de atendimento: a internação domiciliar.
A tendência, consolidada nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, associa-se à volta do médico da família, ao desejo de atendimento personalizado, ao reconhecimento de que a presença e o carinho da família ajudam a reduzir o prazo de recuperação dos doentes e à necessidade de baixar custos. Tudo isso explica por que a internação domiciliar está se tornando um segmento em expansão dentro do chamado "home health care", ou assistência de saúde domiciliar.
A lista de casos clínicos indicados para o tratamento em casa inclui, entre outros problemas, infarto, acidentes vasculares e cerebrais, pós-operatório de cirurgias ortopédicas, sequelas neurológicas, infecções contagiosas e pequenas cirurgias.
O custo/dia, entre 20% e 70% mais barato que a diária hospitalar, pode ser coberto pelas companhias seguradoras. Realizada dentro das normas e padrões de segurança, dizem os especialistas, a internação domiciliar é uma prática vantajosa.
"Meu marido sofre de atrofia nos nervos e nos músculos", conta Adina Salamovits, 69 anos, mulher de Benoit Salamovits, 76, portador de uma doença chamada esclerose de Charcot. Depois de passar meses na UTI e na terapia semi-intensiva do Hospital Sírio-Libanês, ele voltou para casa. Desde agosto, é assistido por uma empresa de internação domiciliar, recomendada pelo médico do hospital.
O caso de Benoit é progressivo e irreversível. Ele depende de aparelho para respirar e se alimenta por sonda ligada ao nariz. "Estar em casa é muito mais fácil e confortável para meu marido e para mim", explica Adina. Ela está o tempo todo ao seu lado. Duas auxiliares de enfermagem se revezam diariamente, o fisioterapeuta e a enfermeira comparecem duas vezes por semana, e o médico da empresa Med-Lar vem a cada sete dias. As despesas são pagas pela Saúde Bradesco.
"Faço suco de legumes e o coloco na sonda", conta Adina. "Outro dia, fiz até badejo com camarão. Ele come muito pouco e com dificuldade, mas imagine se ele ia encontrar isso na UTI."

Novo conceito
A internação domiciliar não substitui a hospitalização, é sua alternativa, adverte Roberto França Sacramento, diretor da Med-Lar, uma das seis empresas do gênero com sede em São Paulo e no Rio.
"A rigor, não há limites para esse tipo de atendimento", diz. "Qual
quer paciente, com qualquer patologia, uma vez ultrapassada a fase aguda que gerou a hospitalização, pode ser transferido para a internação domiciliar. As restrições que existem são de ordem cultural, porque o conceito é novo no país."
A Seen -Serviços Especializados em Saúde- foi a pioneira. Seu diretor, o cirurgião pediátrico Joel Rocha de Mello, introduziu essa modalidade de atendimento em 1986. "Naquela época, a iniciativa foi recebida como boa de ouvir, mas inconcebível de praticar. Hoje, assistimos 30 pacientes e registramos um total de 360 internados em casa nos últimos dois anos."
Mello acredita que, se a rede pública se conveniasse ao sistema, resolveria muitos problemas de saúde e de falta de leitos.
"Poderíamos diminuir em mais de 50% as hospitalizações, tendo apenas quatro viaturas por região. Começaríamos visitando pacientes que receberam alta do hospital e têm grande probabilidade de reinternação, como diabéticos, hipertensos, coronariopatas, cardiopatas, hepatopatas, alcoólatras."
João Ganme, diretor clínico do Hospital Nove de Julho, acha o sistema válido. "Tem custo menor e isso é importante, pois os custos da medicina estão se elevando astronomicamente. Além disso, em casa o paciente se recupera melhor."
Ganme esclarece que, na maioria dos casos, a partir do segundo dia de internação os pacientes usam apenas serviços de hotelaria do hospital: "a unidade de saúde tem prejuízo financeiro e a população perde vagas para doentes graves que precisam dos serviços médicos do hospital."

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