São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 1996
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Os buracos do Econômico

CELSO PINTO

Por trás do impasse na negociação entre o Banco Central e o Excel Banco em relação ao Econômico está um problema conhecido: a falta de ativos decentes.
A intenção básica do BC ao vender o Econômico é encontrar alguém que assuma o passivo do banco quebrado junto ao público, a exemplo do que aconteceu no caso do Banco Nacional. Este passivo, no Econômico, está em torno de R$ 2,5 bilhões.
Para assumir este passivo, o Excel deveria absorver um ativo equivalente.
Só que, depois de examinar a carteira do Econômico, o Excel achou apenas cerca de R$ 500 milhões em empréstimos de alguma qualidade.
Existe outro R$ 1 bilhão sob a forma de depósitos compulsórios e títulos federais que o Econômico tinha no BC. O Banco Central estaria disposto a liberar este dinheiro, mas resta ainda um buraco a cobrir.
O Econômico tinha várias participações acionárias importantes, inclusive no setor siderúrgico, além de empresas lucrativas no setor petroquímico.
O BC não abre mão de manter as empresas petroquímicas. Poderá, contudo, negociar algumas participações acionárias do Econômico como parte dos ativos que o Excel absorveria.
Ainda assim, ficaria faltando algo entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões, segundo uma fonte do BC, para completar o volume de ativos necessários para cobrir os passivos que o Excel estaria assumindo.
O Excel quer esta diferença em dinheiro. A origem seriam recursos do Proer ou linhas de empréstimo equivalentes, a um custo, segundo a fonte, de TR mais 9% ao ano.
Existe um precedente: o Unibanco assumiu cerca de R$ 8 bilhões em passivos do Nacional. Como não conseguiu encontrar ativos de qualidade num volume equivalente, ficaram faltando R$ 2,6 bilhões que entraram em dinheiro vivo como parte do pacote.
Outro problema é o passivo externo do Econômico, de cerca de R$ 900 milhões.
Este passivo inclui linhas comerciais de curto prazo, que o governo já definiu que honraria.
O Excel quer que o BC se responsabilize por este passivo, ainda que seja provável que, com a mudança de dono, as linhas sejam renovadas.
Outra questão em aberto desde o início é a garantia de liquidez para o Econômico quando for reaberto.
O Excel quer que o BC garanta linhas especiais para cobrir qualquer corrida de depositantes. O BC acha que as linhas de redesconto de liquidez existentes são suficientes para atender qualquer emergência.
Se for preciso, argumenta o BC, é possível fazer empréstimos de redesconto com prazo mais longo.
O impasse não significa que o negócio vai melar. O problema é que, quanto mais tempo passa, mais complicado fica o acerto. Os empréstimos de boa qualidade, por exemplo, vão sendo pagos pelos melhores clientes do Econômico.
Quanto mais se examina as contas do Econômico, mais absurdos se encontra.
Descobriu-se, por exemplo, que existem empréstimos no passivo do banco originados em linhas de crédito do BNDES.
É um dinheiro que deveria ter sido repassado a empresas, ficando o Econômico com uma comissão.
Em muitos destes créditos, existe o passivo, mas não o ativo: o dinheiro simplesmente não foi aplicado e sumiu no buraco negro do Econômico.
Da mesma forma, a carteira de créditos imobiliários do Econômico embute um prejuízo mensal de R$ 35 milhões.
Contas do câmbio
Para os que gostam, no mercado, de tentar descobrir qual é exatamente o critério do BC ao fixar a variação do câmbio, segue-se um exercício, feito por um banco.
Desde que o câmbio começou a variar para valer, depois da crise cambial de março do ano passado, até hoje, o reajuste foi de 9,6%.
Se o critério do BC tivesse sido o de considerar a variação dos preços industriais por atacado no Brasil e deduzir a variação dos mesmos preços nos Estados Unidos, o câmbio teria que ter variado 8,5%, uma taxa muito próxima à observada.
Este foi o critério citado como exemplo, recentemente, pelo diretor da Área Externa do BC, Gustavo Franco.
Alguns criticaram Franco, dizendo que o BC deveria considerar a variação ponderada dos preços de seus principais parceiros comerciais e não apenas dos Estados Unidos.
Se tivesse feito isso, o BC teria tido que reajustar o câmbio em 14,3% e não 9,6%.
Para usar todo o argumento de Franco, contudo, seria preciso considerar também a diferença entre a produtividade brasileira e a de seus parceiros. No caso dos EUA, de 6% em favor do Brasil, segundo Franco.

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