São Paulo, terça-feira, 27 de fevereiro de 1996
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Doente, Diolinda continua sem comer

Greve de fome começou no sábado

LUIZ MALAVOLTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BAURU

A sem-terra Diolinda Alves de Souza decidiu ontem manter a greve de fome, apesar de estar com úlcera gástrica, hiperacidez estomacal e debilidade física.
A líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) entrou em greve de fome no sábado, em protesto contra a sua detenção e a de outros três líderes do movimento e a decretação da prisão do marido, José Rainha Júnior, e de Márcio Barreto, que estão foragidos.
Desde as 18h de domingo, Diolinda está internada na Santa Casa de Álvares Machado (590 km a oeste de SP), protegida por cinco policiais militares e civis.
No último domingo, completou um mês que Diolinda, Claudemir Cano, Felinto Procópio (Mineirinho) e Laércio Barbosa estão presos por ordem judicial.
Eles são acusados de formação de quadrilha, em virtude das invasões de terra no Pontal.
Os outros presos, os coordenadores do MST no Pontal Gilmar Contarato, Valentin de Gásperi e Ivan Carlos Bueno e a funcionária do Instituto de Terras do Estado Lourdes Azedo também estão em greve de fome, desde sexta-feira.
A advogada do MST Meire Orlandini disse que Diolinda decidiu manter a greve de fome, contrariando recomendações do seu médico, o gastroenterologista Waldir Mitidiero.
Ele distribuiu ontem boletim confirmando os problemas ocasionados pela úlcera e informando que ela se encontra em "debilidade física".
O delegado-geral de Polícia Civil de São Paulo, Antônio Carlos de Castro Machado, determinou ontem que os médicos do IML (Instituto Médico Legal) de Presidente Prudente (558 km a oeste de SP) fizessem uma "avaliação" de Diolinda.
O médico Wilson Vidal, do IML, esteve na Santa Casa. Segundo a Agência Folha apurou, Machado queria saber se Diolinda possuía sinal de algum tipo de violência física provocada na prisão.
O IML deverá encaminhar ainda hoje para o delegado-geral um relatório sobre a situação de Diolinda. Ela está proibida de receber visitas no hospital.
Só a advogada Orlandini pôde vê-la. Segundo Orlandini, Diolinda pediu-lhe "caneta e papel" e escreveu carta aos sem-terra.
Na carta, escrita na agenda da advogada, Diolinda diz que está "muito confiante de que algo de novo acontecerá".
"Estou firme, muito firme e jamais negarei minha consciência política na luta pela reforma agrária. O nosso trem já iniciou a viagem. Só não sabemos quando chegaremos na estação final."

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